sexta-feira, 28 de agosto de 2015

PUBLICAÇÃO DE URUGUAIANA GANHA O MUNDO

Muitos amigos leitores acham estranho que eu tenha escolhido me autodenominar BLOGUEIRO DO FIM DO MUNDO. Isso não significa que eu considere minha querida Uruguaiana o fim do Mundo, porque pode ser o começo, depende do ponto de vista.
ILUSTRAÇÃO DO GLOBO TERRESTRE EM QUE ENTRE URUGUAIANA E O FIM SOMENTE O OCEANO E DEPOIS A GÉLIDA ANTÁRTIDA


O fato é que, geograficamente, se olharmos  o Globo Terrestre, notamos que estamos bem embaixo do Planeta  e, por isso, em minha concepção livre de quaisquer parâmetros científicos ou acadêmicos, o começo do Mundo é lá em cima e o fim é aqui em baixo.

Nossa cidade está posicionada no Meridiano 57 Oeste ou Meridiano W. Essa linha imaginária parte do Polo Norte, atravessa o Oceano Ártico, América do Norte, Oceano Atlântico, América do Sul, Oceano Antártico, Antártida até chegar ao Polo Sul, mas no caminho passa encima de Uruguaiana. Somos todos meridionais 57.

Bem, minhas divagações não importam. Aproveito para publicar essa postagem a fim de, digamos assim, comemorar com vocês, neste 28 de agosto de 2015, a totalização de 1.670 visualizações desde 21 de maio de 2015, quando lancei o BLOG com a reportagem "Avô coragem mostra para a nação como o Estado deveria agir", contando a saga de um trabalhador de 67 anos  que nunca havia frequentado escola pública e decidiu se matricular para proteger o neto de 15 anos que cursa à noite a Educação de Jovens e Adultos (EJA), e estava sendo ameaçado por gangue de delinquentes juvenis.

Nesse período de manutenção de "O BLOGUEIRO DO FIM DO MUNDO", a última postagem "Meteoro cai em Uruguaiana, no Sul do Brasil", teve 721 visualizações em apenas um dia, superando em quatro vezes os acessos ao mini-documentário "Amor de índia e homem branco rompe barreiras da civilização".

A maior parte do público, 911 leitores, é brasileira, mas aparecem pessoas que acessaram nos estados Unidos, Argentina, Índia, Uruguai, Alemanha, Canadá, Irlanda, Bélgica, Japão e Portugal. Essa repercussão, inesperada de minha parte, em tão pouco tempo, aumenta minha responsabilidade de manter o BLOGUEIRO DO FIM DO MUNDO sempre atualizado e com apurada seleção de conteúdo para mantê-los cativos. obrigado!   


quarta-feira, 26 de agosto de 2015

METEORO CAI EM URUGUAIANA, NO SUL DO BRASIL







Em 30 anos como repórter, ou contador de histórias reais, como costumo dizer, investiguei avistamentos de Objetos Voadores Não identificados (OVNI) em Uruguaiana, na fronteira do Brasil com a Argentina,  e a infestação de espíritos brincalhões que perturbavam adolescentes em uma escola pública da cidade, onde elas faziam rituais sobrenaturais para perguntar trivialidades às forças do além.

Mas nunca imaginei que iria ter de sair um dia no rastro de uma estrela cadente, mais especificamente, de um meteoro que despencou do espaço sideral em minha cidade. O fato ocorreu por volta das 2h da madrugada do dia 27 de julho de 2015 em Áreas Verdes, um bairro pobre da zona Sul da cidade.

O céu estava carregado de nuvens escuras e um chuvisco piorava o lamaçal  nas ruas de acesso ao conjunto de casebres do vilarejo. Tinha o endereço, mas as ruelas desordenadas tornavam difícil a localização, o que somente consegui após horas de peregrinação.

A casa de madeira atingida pelo corpo celeste, tem três cômodos, é habitada por quatro adultos e uma criança e fica na Rua 12, Quadra J. Sabino Dalcanal, 72 anos, autônomo, não hesitou em fazer as honras da moradia e com naturalidade, perguntou para a mulher onde a filha tinha guardado o objeto. - Está no armário da cozinha - respondeu a mulher com voz distante. O homem com aspecto bonachão, se apressou ao se agachar e me alcançar o material.
O AUTÔNOMO SABINO DALCANAL, 72 ANOS, MOSTRA  O OBJETO QUE CAIU DO ESPAÇO A CERCA DE DOIS METROS DA CAMA ONDE DORMIA NA MADRUGADA DO ESTRONDO

Peguei avidamente o que parecia uma rocha de coloração avermelhada maior que uma laranja e de superfície crespa e pontiaguda, com aspecto de metal fundido diferente de qualquer tipo de rocha que tivesse visto. Perguntei se podia arremessá-la no chão e mediante resposta afirmativa o fiz: o objeto tirou  lascas de tudo e não sofreu nenhum arranhão.

Sabino aponta agora para o telhado para me mostrar onde foi o impacto do meteorito que atingiu a casa. Na junção de duas folhas de zinco, das mais antigas que são grossas, o pequeno meteoro rasgou como se fosse papel, caiu sobre a quina da chapa do fogão à lenha e arrebentou a lajota da cozinha. Ana paula Dalcanal conta que todos ouviram um estrondo ensurdecedor. O marido dela foi o primeiro a pular da cama e saiu para ver o que ocorrera.
MAIOR QUE UMA LARANJA, O OBJETO QUE CAIU DO ESPAÇO TEM ASPECTO DE ROCHA OU FERRO FUNDIDO. JOGADO CONTRA PEDRAS NÃO SOFREU NENHUM ARRANHÃO E, AO CAIR, TRESPASSOU  DUAS FOLHAS DE ZINCO ANTIGO COMO SE FOSSE PAPEL

Quando entrou na casa ele viu o objeto na cozinha e sentiu cheiro de queimado. Ao olhar para o telhado viu o clarão da noite pelo buraco do zinco feito pelo meteoro. Ana Paula relata que a violência do choque deixou a grade da porta trepidando por um bom tempo e nos ouvidos dela um zumbido perdurou por várias horas. A cerca de 50 metros de distância os vizinhos também acordaram com o que parecia o som de uma explosão.

Curiosamente, na noite anterior, por volta de 21h, a família conta que estava sentada na frente da casa quando o menino viu um rastro de luz esverdeado rasgar o céu e gritou para todos verem. Era o corpo celeste que por trás das nuvens foi avistado e filmado por muita gente na Argentina e no Sul do Brasil percorrendo a atmosfera terrestre em uma das mais fantásticas exibições de corpos celestes errantes que mexem com o imaginário de todos nós, simples mortais, diante da insondável vastidão do Cosmos. O meteoro de Uruguaiana, guardado pela família simples da cidade, talvez seja apenas um fragmento dele.



      

sábado, 1 de agosto de 2015

Amor de índia e homem branco rompe as barreiras da civilização





Diacuí Kalapalo e o desbravador de selvas Ayres Câmara Cunha: do encontro no meio da floresta do Alto Xingu nasceu um amor improvável que superou todos os preconceitos da sociedade brasileira  do início da Década de 1950, que não aceitava o romance de um homem branco com uma índia 




Desde menino, ouvi falar da história da índia Diacuí e o romance com o sertanista uruguaianense Ayres Câmara Cunha, que comoveu o Brasil inteiro no começo da década de 1950. Lembro-me que minha irmã Adelaide Fantti Carrazoni, quando adolescente, era chamada pelo meu pai Marinho Nunes Fantti, de “Diacuí”, porque tinha o cabelo liso com franjinha, lembrando a famosa indígena brasileira, da Tribo Kalapalos, do Alto Xingu.

Quando comecei a atuar na Imprensa, há mais de 30 anos, tive oportunidade de conhecer Ayres Cunha em reportagem para a televisão, no Sítio Thebaida, onde vivia às margens da BR-290, mas nunca me encontrei com Diacuí. Em 29 de julho passado, o destino me colocou frente a frente com a filha do sertanista e de sua amada silvícola. Uma senhora de altura mediana, de rosto magro e cabelos curtos, bem apessoada e muito diligente a todos com quem conversava.
Mais de 30 anos depois de conhecer e entrevistar para a televisão o sertanista Ayres Câmara Cunha, tive a oportunidade em julho de 2015 de conhecer a filha legítima dele, do casamento do primeiro homem branco uma uma índia: Diacúi Cunha Dutra, 61 anos, mesmo nome da mãe, viveu a emocionante aventura de percorrer as trilhas do pai até a aldeia do Alto Xingu, no Mato grosso, onde viveu inesquecíveis emoções ao conhecer o lugar onde o amor entre Cunha e Diacuí Kalapalo floresceu

Diacuí Cunha Dutra, filha única e legítima do casal, hoje com 61 anos, estava acompanhada pelo jornalista e produtor cultural gaúcho Duclerc Silva, que a ajuda no resgate da memória do pai e na divulgação da expedição que levou de volta às terras selvagens onde sua mãe e Cunha viveram, mesmo contra todo o preconceito da sociedade brasileira da época que o acusava de querer se promover e de apoderar das terras indígenas. Mesmo assim, o sertanista, que conheceu Diacuí quando desbravava a selva como integrante do Serviço de Proteção ao Índio, durante a expedição Roncador Xingu, nunca desistiu do amor que sentia por ela.

A inóspita selva do Alto Xingu por onde em 1943, penetrou a expedição que levou o uruguaianense Ayres Câmara Cunha ao encontro daquela que seria o grande amor de sua vida 
Realizada em 1943, na região do Brasil Central, durante o Governo Vargas, a expedição que se estendeu até 1949 tinha como missão desbravar áreas inóspitas da selva de Mato Grosso. Quando encontrou a etnia Kalapalo, conheceu no meio da floresta e se apaixonou por Diacuí, foi quando decidiu que ela seria a sua mulher. No entanto, a incompreensão do romance não partiu do meio selvagem, mas do homem branco que considerou o caso escandaloso.

Da selva para a megalópole, no Rio de Janeiro, Aires Cunha levou três meses para conseguir oficializar o casamento. Diacuí, pela primeira vez, cobriu a sua nudez e com um belo vestido de noiva e na igreja da Candelária, em 1952, diante de milhares de pessoas e flashes de fotógrafos, uniu-se ao homem branco. Os problemas da jovem índia e do sertanista aventureiro estavam apenas começando. Assis Chateaubriand, criador da TV brasileira e à época editor da famosa Revista Cruzeiro, explorou o fato em reportagens seriadas.
Diacuí, pela primeira vez, cobre sua nudez para unir-se ao amado em cerimônia na civilização do homem branco
























Um ano depois do casamento, Diacuí morreu, mas a semente do amor florescera na pequena Diacuí,  que herdou da mãe o nome e os traços. Cunha abandonou a selva com a menina e a trouxe para a civilização, para Uruguaiana, onde foi criada entre os brancos

Isso ajudou a celebrizar o caso e aumentar o preconceito, mas o amor inusitado superou tudo. Um ano após o casamento Diacui morrera precocemente, deixando o sertanista com a filha pequena que fora batizada com o mesmo nome da mãe. Cunha pegou a menina e abandonou a floresta para vir morar com ela em Uruguaiana, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, na fronteira do Brasil com a Argentina. Na civilização, nunca mais havia retornado às terras onde sua mãe viveu



Em 2014, Duclerc Silva esteve na aldeia Matipu, no Xingu e conheceu familiares de Diacuí ainda vivos, foi quando se materializou a ideia de promover o encontro da indígena com o seu povo. A aldeia se interessou e os caciques Arifirá Matipu e Manüfá Matipu, apoiados pela prima Autuhu Kalapalo Matipu, emitiram convite para ele viajar até a selva e reencontrar familiares. Diacui então, tomou coragem e trocou a tranquilidade da casa onde mora na Rua Dr. Maia e se aventurou na busca de suas raízes. O dia 27 de março de 2015, ficará assinalado na história cultural do país,foi quando a índia desembarcou na floresta do Xingu em busca de sua história perdida.

Ela desembarcou em Canarana (MT) onde estava sendo esperada por mais de dez índios do Xingu. O relato é de que o encontro foi repleto de abraços apertados e longos, de olhares furtivos e observadores, lágrimas de reencontro e a tão sonhada aproximação. Conta Duclerc que antes de se aventurar selva adentro, o entrelaçamento no hotel com os peles vermelhas varou a madrugada, mas o amanhecer já assinalava que era hora de dormir e a jornada até a Aldeia Matipu seria longa. Horas depois, entraram na floresta e nem a expedição cansativa diminuiu a ansiedade e a euforia de Diacuí e de seu amigos.
Encontro de Diacuí Cunha Dutra com parentes seus, da etnia kalapalo, no hotel em Canarana (MT)




Os índios kalapalos fizeram festa para receber a caravana de Diacuí e rever a parente que voltara ao lar, exibindo os rituais perpetuados de geração em direção


Em breve relato, ela me contou como foi o reencontro com as verdadeiras raízes dela e de todos nós, brasileiros. “Pra onde eu ia me seguiam e, curiosos, me tocavam”, me disse Diacuí. Na selva, comeram carne de macaco que tem sabor de capivara e vários tipos de purês de farinha. Dormiram em oca ou taba e viveram os momentos mais mágicos de suas vidas  na floresta que serão relatados em detalhes nas páginas do livro que está sendo escrito por Duclerc,  e em documentário rico em imagens e sons do reencontro de Diacuí na terra onde nasceu e onde seus pais viveram o mais incrível romance da vida real.