domingo, 27 de setembro de 2015

UMA ROSA COM AMOR ÀS ARTES: A FANTÁSTICA HISTÓRIA DE UMA MULHER QUE VOLTOU A PINTAR AOS 70 ANOS






ROSA CHADANIAN,, ARGENTINA DE BUENOS AIRES TRANSFORMOU AOS 74 ANOS O SONHO EM REALIDADE, DEPOIS DE VÊ-LO FRUSTRADO QUANDO TINHA 16 ANOS

Todos nós temos tipos  inesquecíveis de pessoas fora de nossos vínculos consanguíneos ou do círculo de amigos. Eu mesmo, tenho alguns, mas vou me deter em alguém que conheci em Uruguaiana, na fronteira do Brasil com a Argentina. A noite, no bar, naquele julho de 2012 tinha tudo para ser apenas mais uma em que me divertiria, mais ouvindo as baladas do artista que cantava ao vivo na casa noturna bem frenquentada, na esquina entre as ruas Andradas e Vasco Alves, hoje desativada.

Com meus pensamentos mergulhados na taça de vinho argentino, famoso pela boa qualidade, muito comum de encontrar nas noites de inverno da cidade, vi alguém avançar dançando para a pista vazia. A figura, na penumbra e salpicada por raios coloridos emitidos por um pequeno aparelho de efeitos luminosos, era de uma senhora de aproximadamente 70 anos. Ela dançava solitária, com leveza e graça, entregue à magia da noite, o que chamou atenção dos demais frequentadores.

Elegantemente vestida usando roupas pretas com blazer de corte até à cintura e de tecido brilhante, dançava consigo mesma como se estivesse na ribalta. Deduzi que estava diante de alguém com talento para brilhar, ao estilo de grandes vedetes. Quando saiu da pista, não me contive e aplaudi o que o pequeno grupo de notívagos também o fez. Passou pela mesa onde eu estava e me cumprimentou com leve menear da cabeça. Pude ver que era uma senhora ruiva, de cabelos crespos e de olhos azuis que sentou-se à mesa perto da entrada do bar. Estava acompanhada por um senhor que depois descobri ser irmão dela.
A DAMA QUE GOSTA DE DANÇAR É UMA INCRÍVEL ARTISTA PLÁSTICA


Ao verem a dama voltar para a pista, quase todos não resistiram, inclusive eu, e se juntaram a ela, contagiados pela alegria de viver daquela senhora. Quando  paravam de dançar, ela ficava ainda mais um pouco, sempre no mesmo ritmo suave e solitário, interagindo com todos junto às mesas. Dançamos separados, vez em quando, ao longo da noite. Bebemos e conversamos, eu, ela e o irmão. Eram argentinos, de Buenos Aires. Ele mora em Uruguaiana e ela na capital porteña. Depois daquela noite nunca mais a vi.

Julho de 2015. Havia mudado de endereço para a Rua vasco Alves, onde funciona o estabelecimento comercial do irmão, na esquina com à Rua General Câmara. Roberto Chadanian estava sentado na calçada oposta do prédio onde vende móveis e utensílios usados. Ao seu lado, estava Rosa Chadaniam. Nosso reencontro foi inesperado. Ela estava animada e tratou logo de mostrar o projeto em que estava envolvida.

Era a Exposição Sonho e Realidade, uma mostra de sua autoria com mais de 20 belas telas pintadas com a utilização de várias técnicas. - A senhora é artista plástica?- perguntei, surpreso, enquanto olhava as fotografias de seu portfólio. - Sim, sou autodidata e pinto desde criança - afirmou. Dona Rosa estava definindo os últimos detalhes para a exposição de suas obras no Salão do Serviço Social do Comércio de Uruguaiana, o que levou a cabo no período de 4 a 29 de setembro com noite de abertura prestigiada por amigos brasileiros e argentinos.

NO CONVITE, O NOME DA EXPOSIÇÃO DE ROSA, UMA ALUSÃO AO SONHO QUE TORNOU REAL
Ela estava radiante porque realizara um sonho, expressão contida na denominação da mostra e isso tem uma origem. Aos 14 anos, Rosa havia realizado a primeira exposição em que vendeu todas as telas em Buenos Aires. Aos 16 anos, um marchand italiano a convidara para se aperfeiçoar em renomada escola de artes do país, mas Rosa fora proibida pela mãe, receosa em deixar a filha partir. Frustrada, a menina nunca mais pintou. Nos últimos seis anos, com quase 70, a artista que estava latente, falou mais alto e Rosa voltou a manusear pincéis, tintas e telas. De sua verve, brotaram belíssimas obras à óleo e acrílico. Usando cores vivas, pintou obras de seu imaginário com temática variada. Natureza, animais, borboletas e belas paisagens impressionam por serem todas únicas. A mensagem que meu tipo inesquecível, a dama que baila solitária nos salões deixa é de que nunca é tarde para realizar um sonho em vida.





     

domingo, 20 de setembro de 2015

"BOOM": ATENTADO À BOMBA EM URUGUAIANA, NO SUL DO BRASIL



O HOMEM BLINDADO CAMINHA LENTAMENTE NA DIREÇÃO DA BOMBA, DEIXADA NA FRENTE DE UM  BANCO ESTATAL EM URUGUAIANA, DE 130 MIL HABITANTES NO SUL DO BRASIL. O FATO PAROU A RELATIVAMENTE PACATA CIDADE POR OITO HORAS

11 de Setembro. Data emblemática que a Humanidade será obrigada a lembrar por muitos anos porque nesse dia a intolerância ceifou a vida de 3.000 inocentes no atentado às torres gêmeas do Word Trade Center, em Nova Iorque (USA). Seria mais uma sexta-feira normal na pacata cidade de Uruguaiana, no Sul do Brasil, na fronteira com a Argentina. O que viria a acontecer nas primeiras horas do dia iria mobilizar os 130 mil habitantes.

5:30. Um vigilante de empresa privada de segurança acelera a motocicleta para chegar até o banco estatal, no coração da cidade, onde o alarme tinha sido acionado. No local, cruza por um homem vestindo roupa preta com capuz da mesma cor na cabeça.  - é uma bomba, tem uma na porta e outra lá dentro – diz o estranho para o perplexo guarda. Na porta do banco, uma bolsa de plástico com marca de supermercado e outra dentro com marca de loja de sapatos continham algo de forma retangular embrulhado com fita adesiva parda.

DENTRO DE DUAS BOLSAS COM MARCAS DE UM SUPERMERCADO E DE UMA LOJA DE SAPATOS ESTAVA  O MISTERIOSO PACOTE QUE PAROU A CIDADE POR OITO HORAS




A bomba com uma luz vermelha piscando refletia na porta de vidro da agência. O agente imediatamente acionou a polícia militar que isolou o perímetro em uma área de 30 metros. O Grupo de Apoio Tático Especial (Gate), com especialistas em bombas, é acionado e parte de avião de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, com previsão de chegar duas horas depois.

Amanhece o dia e centenas de trabalhadores do comércio, agências bancárias e de prédios de escritórios e serviços encontram o perímetro isolado em um raio maior, de 150 metros. Curiosos se aglomeram atrás da faixa amarelo e preto usada para delimitar a área. Ninguém pode passar. Ambulância e viaturas dos Bombeiros, da Guarda Municipal, da Polícia Civil e da Militar se posicionam na Rua Duque de Caxias.

NESSE DIA, NINGUÉM CHEGOU ONDE PRETENDIA CHEGAR: HAVIA UMA BOMBA NO CENTRO
EM UM RAIO DE 100 METROS DO LOCAL DA BOMBA, O CENTRO DE URUGUAIANA VIROU ZONA PROIBIDA



Fotógrafos e repórteres de Rádio, TV e Jornais interpelam autoridades policiais para saber detalhes da operação. – entro correndo lá, pego essa bomba e levo para explodir no Rio Uruguai- diz o homem achando que tudo poderia ser mais simples, não fosse o mistério daquele pacote com luz piscando, a inevitável relação com o 11 de Setembro e haver clima de revolta de servidores públicos do Estado contra o governador que há meses paga os salários parcelados.
O FATO INUSITADO MANTEVE DE PLANTÃO EQUIPES DE REPÓRTERES
DE RÁDIO,TV E JORNAL

O Gate chega ao final da manhã. Começam então ações vistas somente antes em filmes. O vento que sopra forte no centro fazendo tremular as faixas de isolamento e sacudir as árvores derrubando folhas secas no asfalto aumenta o suspense quando é colocado em posição um robô semelhante a um pequeno tanque de guerra e um policial militar especialista no desarme de bombas começa a vestir pesada armadura blindada.
DA VIATURA DO GRUPO DE AÇÕES TÁTICAS ESPECIAIS (GATE), DA CAPITAL DO ESTADO, O ROBÔ ACIONADO POR CONTROLE REMOTO IRÁ FAZER O PRIMEIRO CONTATO COM A BOMBA

O robô parte primeiro rumo à porta do banco, arrancando com certa velocidade acionado por controle remoto do interior da viatura do Gate. – olha lá, igual ao meu que uso para jogar game no computador – diz o rapaz referindo ao joystick usado pelo operador do "tanquezinho". O Robô acessa a calçada pela rampa usada por cadeirantes e alcança a bomba. Silêncio sepulcral.
NA PORTA DO BANCO,  ROBÔ CONTROLADO A 50 METROS DE DISTÂNCIA PEGA A BOMBA. SUSPENSE E APREENSÃO DO PÚBLICO


Da engenhoca dotada de câmera sai um “braço” com mão mecânica que remove as bolsas de plástico. Elas são levadas pelo vento e revelam a bomba. Um pacote de aproximadamente 30 centímetros que é suspenso e escapa do robô caindo sobre a calçada. – nem há bomba lá porque caiu e não houve explosão - disse um espectador em tom decepcionado.

Após alguns minutos o robô é trazido pelo controlador. O policial com roupa blindada começa a se mover lentamente percorrendo cerca de 50 metros no tempo que caminharia uma quadra e meio com trajes normais. A cena é cinematográfica, como a de um astronauta passeando pelo solo lunar. Novo silêncio total. Seria o confronto de um homem contra uma bomba nunca visto antes na cidade. Um espetáculo gratuito e que poderia ter final surpreendente.
O POLICIAL MILITAR DO GATE ESPECIALISTA EM DESARMAR BOMBAS SE APROXIMA DO LOCAL DO ATENTADO


O homem blindado leva com ele um tipo de bastão e quando chega ao local se aproxima da bomba cautelosamente, se agacha e a inspeciona sem tocá-la. Momentos cruciais. Tudo pode ocorrer em uma situação limite como essa.  A expectativa tira o fôlego da platéia e fotógrafos amadores e profissionais se acotovelam para o melhor ângulo, mas o policial se levanta e sai lentamente do local deixando apontado para o pacote o bastão que levara.
O bastão nada mais é do que um canhão de jato d’água de altíssima pressão, usado para destruir artefatos como esse. Há certo alvoroço quando a polícia manda o público recuar. – vamos explodir. Atenção para a contagem: cinco... quatro...três...dois...um – grita o comandante da operação. Segue-se um estampido seco e o pacote é desmantelado em pedacinhos. Mas, para a frustração da platéia, não houve explosão.

PÚBLICO APREENSIVO ESPERA O MOMENTO DA DETONAÇÃO DA BOMBA

Policiais e autoridades presentes avançam para inspecionar o artefato. – trata-se de um simulacro de bomba, com estrutura de uma bomba, construído por quem entende de bomba, mas não era uma bomba – explicou redundante, o oficial comandante da ação.  A “bomba” continha fios azul e vermelho, dois canos de PVC com enchimento de argila em vez de pólvora e uma bateria de moto para manter a luzinha piscando. Foi feita varredura dentro da agência e não havia a segunda bomba anunciada pelo homem de capuz, que até hoje não foi identificado.

. A "BOMBA" NÃO PASSAVA DE UM SIMULACRO, ERA FALSA, MAS COM TODA A ESTRUTURA DE UMA BOMBA DE VERDADE. Foto: Miguel Castanini







NÃO QUERO PARECER MÓRBIDO, EM MAIS UMA DE TANTAS AVENTURAS COMO REPÓRTER AGORA APOSENTADO  E QUE NÃO PRETENDE PARAR DE CONTAR HISTÓRIAS, CONFESSO  QUE MINHA FRUSTRAÇÃO NÃO FOI MENOR DO QUE A DO PÚBLICO QUE ESPERAVA VER UMA EXPLOSÃO, NÃO TÃO GRANDE E DEVASTADORA, É CLARO 


Acompanhei junto com o público a operação e confesso ter experimentado a mesma frustração de todos que esperavam uma explosão, por mais mórbido que possa parecer. A faixa amarela e preta é rompida e todos caminham apressadamente para seus postos de trabalho.  São 13h de sexta-feira, 11 de Setembro de 2015. Não havia bomba e nem um maníaco terrorista que pretendesse por abaixo o prédio do Banco, para marcar o dia do famoso atentado. Mas ele conseguiu o objetivo, que era parar a cidade e provocar o caos.




domingo, 6 de setembro de 2015

OS CAÇADORES DE REMINISCÊNCIAS DO CENTRO URUGUAIANENSE EM PORTO ALEGRE




PSICÓLOGA E EDUCADORA LIZ IBARRA, DA PREFEITURA DE PORTO ALEGRE, CAPITAL DO RIO GRANDE DO SUL, NO BRASIL: "RETORNAR À TERRA NATAL É VOLTAR PARA DENTRO DE NÓS MESMOS"
Costumo dizer que quando alguém deixa a terra natal ocorre uma espécie de desterro emocional e psicológico. Passei por isso de 1993 a 1995 quando fui promovido de repórter ao cargo de coordenador regional da RBS TV, afiliada da Rede Globo na região da Campanha do Rio Grande do Sul. Moradores de Uruguaiana que por diversas razões tiveram de abandonar o lugar onde nasceram para irem morar em Porto Alegre, capital do Estado, encontraram uma forma de amenizar esse drama.

Eles fazem parte do Centro Uruguaianense em Porto Alegre, fundado há 60 anos para congregar quem teve de deixar as raízes formando uma comunidade e mais de 650 quilômetros da fronteira. Anualmente, o grupo formado em sua maioria por aposentados de várias profissões, retorna a Uruguaiana durante a Semana da Pátria, onde cumprem agitada agenda que faz da  estada deles aqui uma festa permanente e eu achei que devia acompanhá-los.

No final de semana que antecedeu ao 7 de Setembro, parte do grupo de 50 visitantes participou de vários eventos. No Estádio Felisberto Fagundes Filho, na "Baixada", participaram de uma partida de futebol festiva quando os veteranos do Centro Uruguaianese enfrentaram os veteranos da equipe jalde-negra. Entre os integrantes do grupo, o contabilista da ativa Nelson Visentainer, de 70 anos, esbanjou vitalidade e alegria.
CONTABILISTA DA ATIVA EM PORTO ALEGRE (RS)

, NELSON VISENTAINER, 70 ANOS, ESBANJOU VITALIDADE AO PISAR MAIS UMA VEZ NO TORRÃO NATAL; URUGUAIANA, NA FRONTEIRA DO BRASIL COM A ARGENTINA

Campeão estadual de futebol de salão pelo Esporte Clube Juventude, de Caxias do Sul, no início da década de 1960; entrou em campo no segundo tempo e quando tocou na bola mostrou habilidade em um drible curto para a direita tirando o adversário, mais jovem, da jogada; e dando um belo passe para o ataque.

PRESIDENTE MARIA APARECIDA LISBOA FERNANDES, "CIDA",  QUE LEVOU A ESCOLA DE SAMBA BAMBAS DA ALEGRIA AO TÃO SONHADO PRIMEIRO TÍTULO DE CAMPEÃ DO CARNAVAL FORA DE ÉPOCA DE URUGUAIANA, ALIOU-SE À FESTA DAQUELES QUE VOLTARAM ÀS RAÍZES
Na sequência da programação, o grupo foi participar de churrasco oferecido pela diretoria da Escola de Samba Bambas da Alegria, atual campeã do Carnaval Fora de Época de Uruguaiana. Novamente, o espírito festeiro do grupo tornou o encontro uma grande celebração de alegria e risos. Wisentainer mostrou que tem samba no pé ao tirar para dançar a presidente da escola Maria Aparecida Lisboa Fernandes, a "Cida". "Ele me deu um cansaço", comentava depois, ofegante, a carnavalesca.

LIZ IBARRA SOLTA A VOZ NA TERRA ONDE NASCEU
Quem também não resistiu o clima de confraternização foi a psicóloga e educadora da Prefeitura de Porto Alegre Liz Ibarra. Cantando com o grupo de pagode da Bambas, interpretou ótimo repertório de música popular brasileira e exibiu uma bela e afinada voz. "Voltar a Uruguaiana é retornar às origens, é rever tudo que deixamos e não queremos esquecer, é voltar para dentro de nós mesmos", afirmou Liz. Na noite de sábado (5/setembro), os caçadores de reminiscências foram ao baile do Clube Caixeiral e no dia da pátria, desfilaram solenemente na Avenida Presidente Vargas, como fazem há 16 anos, desde que começaram a viajar para dentro de si mesmos, retornando à terra natal.
INICIALMENTE, ACOMPANHEI DE LONGE O REENCONTRO EMOCIONADO DOS FILHOS DE URUGUAIANA COM A TERRA ONDE NASCERAM, MAS DEPOIS NÃO RESISTI E ME INTEGREI À ALVISSAREIRA FESTA DOS CAÇADORES DE REMINISCÊNCIAS