domingo, 20 de setembro de 2015

"BOOM": ATENTADO À BOMBA EM URUGUAIANA, NO SUL DO BRASIL



O HOMEM BLINDADO CAMINHA LENTAMENTE NA DIREÇÃO DA BOMBA, DEIXADA NA FRENTE DE UM  BANCO ESTATAL EM URUGUAIANA, DE 130 MIL HABITANTES NO SUL DO BRASIL. O FATO PAROU A RELATIVAMENTE PACATA CIDADE POR OITO HORAS

11 de Setembro. Data emblemática que a Humanidade será obrigada a lembrar por muitos anos porque nesse dia a intolerância ceifou a vida de 3.000 inocentes no atentado às torres gêmeas do Word Trade Center, em Nova Iorque (USA). Seria mais uma sexta-feira normal na pacata cidade de Uruguaiana, no Sul do Brasil, na fronteira com a Argentina. O que viria a acontecer nas primeiras horas do dia iria mobilizar os 130 mil habitantes.

5:30. Um vigilante de empresa privada de segurança acelera a motocicleta para chegar até o banco estatal, no coração da cidade, onde o alarme tinha sido acionado. No local, cruza por um homem vestindo roupa preta com capuz da mesma cor na cabeça.  - é uma bomba, tem uma na porta e outra lá dentro – diz o estranho para o perplexo guarda. Na porta do banco, uma bolsa de plástico com marca de supermercado e outra dentro com marca de loja de sapatos continham algo de forma retangular embrulhado com fita adesiva parda.

DENTRO DE DUAS BOLSAS COM MARCAS DE UM SUPERMERCADO E DE UMA LOJA DE SAPATOS ESTAVA  O MISTERIOSO PACOTE QUE PAROU A CIDADE POR OITO HORAS




A bomba com uma luz vermelha piscando refletia na porta de vidro da agência. O agente imediatamente acionou a polícia militar que isolou o perímetro em uma área de 30 metros. O Grupo de Apoio Tático Especial (Gate), com especialistas em bombas, é acionado e parte de avião de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, com previsão de chegar duas horas depois.

Amanhece o dia e centenas de trabalhadores do comércio, agências bancárias e de prédios de escritórios e serviços encontram o perímetro isolado em um raio maior, de 150 metros. Curiosos se aglomeram atrás da faixa amarelo e preto usada para delimitar a área. Ninguém pode passar. Ambulância e viaturas dos Bombeiros, da Guarda Municipal, da Polícia Civil e da Militar se posicionam na Rua Duque de Caxias.

NESSE DIA, NINGUÉM CHEGOU ONDE PRETENDIA CHEGAR: HAVIA UMA BOMBA NO CENTRO
EM UM RAIO DE 100 METROS DO LOCAL DA BOMBA, O CENTRO DE URUGUAIANA VIROU ZONA PROIBIDA



Fotógrafos e repórteres de Rádio, TV e Jornais interpelam autoridades policiais para saber detalhes da operação. – entro correndo lá, pego essa bomba e levo para explodir no Rio Uruguai- diz o homem achando que tudo poderia ser mais simples, não fosse o mistério daquele pacote com luz piscando, a inevitável relação com o 11 de Setembro e haver clima de revolta de servidores públicos do Estado contra o governador que há meses paga os salários parcelados.
O FATO INUSITADO MANTEVE DE PLANTÃO EQUIPES DE REPÓRTERES
DE RÁDIO,TV E JORNAL

O Gate chega ao final da manhã. Começam então ações vistas somente antes em filmes. O vento que sopra forte no centro fazendo tremular as faixas de isolamento e sacudir as árvores derrubando folhas secas no asfalto aumenta o suspense quando é colocado em posição um robô semelhante a um pequeno tanque de guerra e um policial militar especialista no desarme de bombas começa a vestir pesada armadura blindada.
DA VIATURA DO GRUPO DE AÇÕES TÁTICAS ESPECIAIS (GATE), DA CAPITAL DO ESTADO, O ROBÔ ACIONADO POR CONTROLE REMOTO IRÁ FAZER O PRIMEIRO CONTATO COM A BOMBA

O robô parte primeiro rumo à porta do banco, arrancando com certa velocidade acionado por controle remoto do interior da viatura do Gate. – olha lá, igual ao meu que uso para jogar game no computador – diz o rapaz referindo ao joystick usado pelo operador do "tanquezinho". O Robô acessa a calçada pela rampa usada por cadeirantes e alcança a bomba. Silêncio sepulcral.
NA PORTA DO BANCO,  ROBÔ CONTROLADO A 50 METROS DE DISTÂNCIA PEGA A BOMBA. SUSPENSE E APREENSÃO DO PÚBLICO


Da engenhoca dotada de câmera sai um “braço” com mão mecânica que remove as bolsas de plástico. Elas são levadas pelo vento e revelam a bomba. Um pacote de aproximadamente 30 centímetros que é suspenso e escapa do robô caindo sobre a calçada. – nem há bomba lá porque caiu e não houve explosão - disse um espectador em tom decepcionado.

Após alguns minutos o robô é trazido pelo controlador. O policial com roupa blindada começa a se mover lentamente percorrendo cerca de 50 metros no tempo que caminharia uma quadra e meio com trajes normais. A cena é cinematográfica, como a de um astronauta passeando pelo solo lunar. Novo silêncio total. Seria o confronto de um homem contra uma bomba nunca visto antes na cidade. Um espetáculo gratuito e que poderia ter final surpreendente.
O POLICIAL MILITAR DO GATE ESPECIALISTA EM DESARMAR BOMBAS SE APROXIMA DO LOCAL DO ATENTADO


O homem blindado leva com ele um tipo de bastão e quando chega ao local se aproxima da bomba cautelosamente, se agacha e a inspeciona sem tocá-la. Momentos cruciais. Tudo pode ocorrer em uma situação limite como essa.  A expectativa tira o fôlego da platéia e fotógrafos amadores e profissionais se acotovelam para o melhor ângulo, mas o policial se levanta e sai lentamente do local deixando apontado para o pacote o bastão que levara.
O bastão nada mais é do que um canhão de jato d’água de altíssima pressão, usado para destruir artefatos como esse. Há certo alvoroço quando a polícia manda o público recuar. – vamos explodir. Atenção para a contagem: cinco... quatro...três...dois...um – grita o comandante da operação. Segue-se um estampido seco e o pacote é desmantelado em pedacinhos. Mas, para a frustração da platéia, não houve explosão.

PÚBLICO APREENSIVO ESPERA O MOMENTO DA DETONAÇÃO DA BOMBA

Policiais e autoridades presentes avançam para inspecionar o artefato. – trata-se de um simulacro de bomba, com estrutura de uma bomba, construído por quem entende de bomba, mas não era uma bomba – explicou redundante, o oficial comandante da ação.  A “bomba” continha fios azul e vermelho, dois canos de PVC com enchimento de argila em vez de pólvora e uma bateria de moto para manter a luzinha piscando. Foi feita varredura dentro da agência e não havia a segunda bomba anunciada pelo homem de capuz, que até hoje não foi identificado.

. A "BOMBA" NÃO PASSAVA DE UM SIMULACRO, ERA FALSA, MAS COM TODA A ESTRUTURA DE UMA BOMBA DE VERDADE. Foto: Miguel Castanini







NÃO QUERO PARECER MÓRBIDO, EM MAIS UMA DE TANTAS AVENTURAS COMO REPÓRTER AGORA APOSENTADO  E QUE NÃO PRETENDE PARAR DE CONTAR HISTÓRIAS, CONFESSO  QUE MINHA FRUSTRAÇÃO NÃO FOI MENOR DO QUE A DO PÚBLICO QUE ESPERAVA VER UMA EXPLOSÃO, NÃO TÃO GRANDE E DEVASTADORA, É CLARO 


Acompanhei junto com o público a operação e confesso ter experimentado a mesma frustração de todos que esperavam uma explosão, por mais mórbido que possa parecer. A faixa amarela e preta é rompida e todos caminham apressadamente para seus postos de trabalho.  São 13h de sexta-feira, 11 de Setembro de 2015. Não havia bomba e nem um maníaco terrorista que pretendesse por abaixo o prédio do Banco, para marcar o dia do famoso atentado. Mas ele conseguiu o objetivo, que era parar a cidade e provocar o caos.




Um comentário: