11 de Setembro. Data emblemática que a Humanidade
será obrigada a lembrar por muitos anos porque nesse dia a intolerância ceifou
a vida de 3.000 inocentes no atentado às torres gêmeas do Word Trade Center, em
Nova Iorque (USA). Seria mais uma sexta-feira normal na pacata cidade de
Uruguaiana, no Sul do Brasil, na fronteira com a Argentina. O que viria a
acontecer nas primeiras horas do dia iria mobilizar os 130 mil habitantes.
5:30. Um vigilante de empresa privada de segurança acelera a
motocicleta para chegar até o banco estatal, no coração da cidade, onde o alarme
tinha sido acionado. No local, cruza por um homem vestindo roupa preta com
capuz da mesma cor na cabeça. - é uma
bomba, tem uma na porta e outra lá dentro – diz o estranho para o perplexo
guarda. Na porta do banco, uma bolsa de plástico com marca de supermercado e
outra dentro com marca de loja de sapatos continham algo de forma retangular
embrulhado com fita adesiva parda.
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DENTRO DE DUAS BOLSAS COM MARCAS DE UM SUPERMERCADO E DE UMA LOJA DE SAPATOS ESTAVA O MISTERIOSO PACOTE QUE PAROU A CIDADE POR OITO HORAS |
A bomba com uma luz vermelha piscando refletia na porta de
vidro da agência. O agente imediatamente acionou a polícia militar que isolou o
perímetro em uma área de 30 metros. O Grupo de Apoio Tático Especial (Gate),
com especialistas em bombas, é acionado e parte de avião de Porto Alegre,
capital do Rio Grande do Sul, com previsão de chegar duas horas depois.
Amanhece o dia e centenas de trabalhadores do comércio, agências bancárias e de prédios de escritórios e serviços encontram o perímetro isolado em um raio maior, de 150 metros. Curiosos se aglomeram atrás da faixa amarelo e preto usada para delimitar a área. Ninguém pode passar. Ambulância e viaturas dos Bombeiros, da Guarda Municipal, da Polícia Civil e da Militar se posicionam na Rua Duque de Caxias.
NESSE DIA, NINGUÉM CHEGOU ONDE PRETENDIA CHEGAR: HAVIA UMA BOMBA NO CENTRO |
EM UM RAIO DE 100 METROS DO LOCAL DA BOMBA, O CENTRO DE URUGUAIANA VIROU ZONA PROIBIDA |
Fotógrafos e repórteres de Rádio, TV e Jornais interpelam
autoridades policiais para saber detalhes da operação. – entro correndo lá, pego essa
bomba e levo para explodir no Rio Uruguai- diz o homem achando que tudo poderia
ser mais simples, não fosse o mistério daquele pacote com luz piscando, a
inevitável relação com o 11 de Setembro e haver clima de revolta de servidores
públicos do Estado contra o governador que há meses paga os salários
parcelados.
O FATO INUSITADO MANTEVE DE PLANTÃO EQUIPES DE REPÓRTERES
DE RÁDIO,TV E JORNAL
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O Gate chega ao final da manhã. Começam então ações vistas
somente antes em filmes. O vento que sopra forte no centro fazendo tremular as
faixas de isolamento e sacudir as árvores derrubando folhas secas no asfalto
aumenta o suspense quando é colocado em posição um robô semelhante a um pequeno
tanque de guerra e um policial militar especialista no desarme de bombas começa
a vestir pesada armadura blindada.
DA VIATURA DO GRUPO DE AÇÕES TÁTICAS ESPECIAIS (GATE), DA CAPITAL DO ESTADO, O ROBÔ ACIONADO POR CONTROLE REMOTO IRÁ FAZER O PRIMEIRO CONTATO COM A BOMBA |
O robô parte primeiro rumo à porta do banco, arrancando com
certa velocidade acionado por controle remoto do interior da viatura do Gate. –
olha lá, igual ao meu que uso para jogar game no computador – diz o rapaz
referindo ao joystick usado pelo operador do "tanquezinho". O Robô acessa a
calçada pela rampa usada por cadeirantes e alcança a bomba. Silêncio sepulcral.
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NA PORTA DO BANCO, ROBÔ CONTROLADO A 50 METROS DE DISTÂNCIA PEGA A BOMBA. SUSPENSE E APREENSÃO DO PÚBLICO |
Da engenhoca dotada de câmera sai um “braço” com mão mecânica
que remove as bolsas de plástico. Elas são levadas pelo vento e revelam a bomba.
Um pacote de aproximadamente 30 centímetros que é suspenso e escapa do robô
caindo sobre a calçada. – nem há bomba lá porque caiu e não houve explosão - disse
um espectador em tom decepcionado.
Após alguns minutos o robô é trazido pelo controlador. O
policial com roupa blindada começa a se mover lentamente percorrendo cerca de
50 metros no tempo que caminharia uma quadra e meio com trajes normais. A cena
é cinematográfica, como a de um astronauta passeando pelo solo lunar. Novo
silêncio total. Seria o confronto de um homem contra uma bomba nunca visto
antes na cidade. Um espetáculo gratuito e que poderia ter final surpreendente.
O homem blindado leva com ele um tipo de bastão e quando chega
ao local se aproxima da bomba cautelosamente, se agacha e a inspeciona sem
tocá-la. Momentos cruciais. Tudo pode ocorrer em uma situação limite como
essa. A expectativa tira o fôlego da platéia
e fotógrafos amadores e profissionais se acotovelam para o melhor ângulo,
mas o policial se levanta e sai lentamente do local deixando apontado para o
pacote o bastão que levara.
O bastão nada mais é do que um canhão de jato d’água de
altíssima pressão, usado para destruir artefatos como esse. Há certo alvoroço
quando a polícia manda o público recuar. – vamos explodir. Atenção para a contagem:
cinco... quatro...três...dois...um – grita o comandante da operação. Segue-se
um estampido seco e o pacote é desmantelado em pedacinhos. Mas, para a
frustração da platéia, não houve explosão.
PÚBLICO APREENSIVO ESPERA O MOMENTO DA DETONAÇÃO DA BOMBA |
Policiais e autoridades presentes avançam para inspecionar o artefato. – trata-se de um simulacro de bomba, com estrutura de uma bomba, construído por quem entende de bomba, mas não era uma bomba – explicou redundante, o oficial comandante da ação. A “bomba” continha fios azul e vermelho, dois canos de PVC com enchimento de argila em vez de pólvora e uma bateria de moto para manter a luzinha piscando. Foi feita varredura dentro da agência e não havia a segunda bomba anunciada pelo homem de capuz, que até hoje não foi identificado.
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. A "BOMBA" NÃO PASSAVA DE UM SIMULACRO, ERA FALSA, MAS COM TODA A ESTRUTURA DE UMA BOMBA DE VERDADE. Foto: Miguel Castanini |
Acompanhei junto com o público a operação e confesso ter experimentado a mesma frustração de todos que esperavam uma explosão, por mais mórbido que possa parecer. A faixa amarela e preta é rompida e todos caminham apressadamente para seus postos de trabalho. São 13h de sexta-feira, 11 de Setembro de 2015. Não havia bomba e nem um maníaco terrorista que pretendesse por abaixo o prédio do Banco, para marcar o dia do famoso atentado. Mas ele conseguiu o objetivo, que era parar a cidade e provocar o caos.
Parabéns,primo!
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