sexta-feira, 30 de outubro de 2015

A HISTÓRIA DO BOLO GIGANTE QUE UNIU O POVO DE UMA CIDADE





Esse flagrante da vida real que relato para vocês me remete ao tempo de meninice quando festejava os bolos caseiros que a doceira Adelaide Fantti Carrazzoni fazia com habilidade divina. Minha querida irmã produzia essas guloseimas de todos os tamanhos e formas e com os mais variados recheios transformando suas criações em verdadeiros "manjares dos deuses". Gente de todos os cantos da cidade a procurava para encomendar suas gostosuras, mas não lembro de uma com mais de um metro de comprimento.





BARRA DO QUARAÍ, MUNICÍPIO LOCALIZADO NA FRONTEIRA TRINACIONAL ENTRE O BRASIL, A ARGENTINA E O URUGUAI.ESTA É A RUA SALUSTINO MARTY, A PRINCIPAL DA CIDADE, ONDE TUDO ACONTECE. ESTE ÂNGULO MOSTRA A DISTANTE PERSPECTIVA DE PROGRESSO QUE O MUNICÍPIO NUNCA TERIA, SE NÃO SE EMANCIPASSE DE URUGUAIANA, LOCALIZADA BEM AO FUNDO, NO PLANO DO HORIZONTE, A PERDER DE VISTA. SÃO 70 QUILÔMETROS DE DISTÂNCIA.

Transcorria o dia 22 de outubro de 2015 quando me desloquei até a fronteira trinacional entre o Brasil, Argentina e Uruguai. Queria descobrir que segredo guardavam as autoridades de Barra do Quaraí, pequeno povoado de 4.200 moradores,  na divisa entre os três países.

A manhã de Primavera com céu de anil e temperatura amena brindaram os barrenses no dia em que o município se preparava para comemorar 20 anos de emancipação política de Uruguaiana. A quadra da rua principal que corta a cidade tinha sido fechada e uma estrutura com palco, estandes para exposições de produtos e brinquedos infláveis começava a ser montada para a festa.

Mas o que eu buscava não estava nesse local. Sabia que toda a população esperava para vê-lo. Aliás, mais que desejam ver, queriam comê-lo. Em meio à algazarra alvissareira das crianças levadas pelas professoras das duas escolas públicas da cidade para os festejos, saí da rua e entrei no salão paroquial da igrejinha e me deparei com o segredo: um bolo de 20 metros de comprimento.
O gigantesco bolo de 20 metros que levou quatro dias para ser produzido, recebeu recheio de doce de leite e de doce de ovos. Foi necessário convocar um matemático para calcular a quantidade certa de ingredientes para que a massa ganhasse consistência



Montado encima de mesas, o bolo gigante se estendia de um extremo a outro do salão, quase a perder de vista (veja o vídeo ao final desse documentário). Fiquei impressionado com a novidade e interpelei dona Vera Guirland, uma senhora com jeito daquelas vovós da literatura infantil. De lenço na cabeça e entretida na feitura da obra, me contou como coordenou a equipe de colaboradoras da comunidade para fazer o bolo:-levamos quatro dias para fazer e não tenho ideia do que gastamos-, disse sem levantar a cabeça, mas com sorriso de satisfação no rosto.

O prefeito Iad Choli, que conseguiu colocar Barra do Quaraí nos trilhos do desenvolvimento, comentava  que estava animado pensando na hora em que iria entregar a delícia para o povo saborear, feita com recheios de doce de leite e doce de ovos. O banquete popular estava programado para o encerramento das comemorações. O bolo foi dividido em 20 pedaços de um metro de comprimento, um metro para cada ano em que os valentes barrenses aguentaram sem a tutela do município mãe. 

O PREFEITO IAD CHOLI (C), DE GRAVATA VERMELHA, RECEBEU AS AUTORIDADES CONVIDADAS E OS LÍDERES EMANCIPACIONISTAS PARA SABOREAR O DELICIOSO BOLO GIGANTE COBERTO COM GLACÊ SOBRE O QUAL FORAM PINTADAS AS BANDEIRAS DE BARRA DO QUARAÍ E DO BRASIL


Depois de receber a cobertura de glacê, o imenso bolo foi decorado com as bandeiras da cidade e do Brasil. - Pelos meus cálculos, mais de 2.000 pessoas irão provar as fatias, nessa festa democrática-, afirmou o mandatário da pequena cidade. Fiquei sabendo que foi necessária a convocação de um matemático para mensurar a quantidade de farinha, fermento, água e demais ingredientes para que o bolo tivesse a conssistência necessária.
DONA VERA GUIRLAND, 62 ANOS. MUITO EMPENHO PARA FAZER, JUNTAMENTE COM UMA EQUIPE DE CONFEITEIRAS, O BOLO DE ANIVERSÁRIO DE BARRA DO QUARAÍ. QUATRO DIAS DE TRABALHO PARA FAZER UMA OBRA PRIMA QUE RENDEU MAIS DE 2.000 PEDAÇOS PARA A POPULAÇÃO BARRENSE E CONVIDADOS




Infelizmente, não pude provar a gostosura, mas fiquei sabendo que os barrenses lotaram a rua e fizeram imensas filas para provar o bolo que em pouco tempo foi devorado com a mesma ânsia de progresso que toma conta de todos em Barra do Quaraí, na confluência entre os rios Uruguai e Quaraí.

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Pego a estrada com a clara impressão de que desde os primórdios, o sentido gregário impediu a extinção da raça humana. Lugares como Barra do Quaraí, por força de sobrevivência, se transformam em uma grande família com suas características e pessoas com diferenças intrínsecas de caráter e de personalidade, como é natural em uma comunidade miscigenada mas,. acima de tudo, ciente de que precisa estar unida para crescer.


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

ORAÇÃO DO MOTOCICLISTA: COMO A CRIEI SEM NUNCA TER ME AVENTURADO SOBRE DUAS RODAS


Oração do Motociclista
MOTOCICLISTAS DO RIO GRANDE DO SUL (BRASIL), PEGAM A ESTRADA PARA MAIS UM INESQUECÍVEL ENCONTRO EM QUE VIVEM AS EMOÇÕES DE SEREM OS DEVORADORES DE DISTÂNCIAS


Autor: César Fantti


Quando acelero, Senhor!
Cada palmo dessa imensa estrada
É uma gloriosa conquista desse pequeno ser
Que sou diante de Ti...

Quando acelero, Senhor!
A paisagem rápida do caminho,
Rebobina um filme antigo,
Misto de drama e comédia
Que eu fingia ter esquecido...

Quando acelero, Senhor!
Rasgo distâncias, crendo que assim,
Estou me aproximando de Ti...

Quando acelero, Senhor!
Sou o vento libertário
Que viaja sem fronteiras,
Irmanando povos
E partilhando felicidade...

Quando acelero, senhor!
Minha máquina, possante e pesada,
Voa para além do arco-íris,
Para a luz da esperança,
Reafirmando o meu destino de ser,
Hoje e sempre,
Um desgarrado sem fronteiras!

EM OUTUBRO DE 2015, CENTENAS DE MOTOCICLISTAS DE VÁRIAS CIDADES DO RIO GRANDE DO SUL SE CONCENTRARAM NA CIDADE DE ROSÁRIO DO SUL, NA FRONTEIRA OESTE DO ESTADO, ONDE COMEÇARAM A VIVER AS EMOÇÕES DE MAIS UM ENCONTRO DESSA GRANDE IRMANDADE. ELES PARTICIPAM ANUALMENTE DO ENCONTRO DE MOTOCICLISTAS "ABRAÇANDO A FRONTEIRA" 
Era uma tarde morna àquela de 1979 quando, depois de almoçar no Cassino dos Sargentos, no 22º Grupo de Artilharia de Campanha, em Uruguaiana, na fronteira do Brasil com a Argentina, fui aproveitar o intervalo no estacionamento sob o bosque de eucalipto.Tinha  19 anos e já sentia o peso de três divisas em meu uniforme verde-oliva do Exército brasileiro, mas o rapaz com os arroubos naturais da juventude estava latente dentro de mim.

Foi quando pedi a um colega de caserna que me emprestasse a motocicleta a fim de aprender a pilotar. Não foi uma boa ideia. Orientado por ele, subi na máquina. Acho que era uma Honda CG-125 cilindradas, daquelas altas. Devo ter acelerado muito e soltado a embreagem de uma só vez. A moto saltou para a frente como um cavalo indomado. Caí de costas no chão e o veículo rodou vários metros até tombar trepidando na relva.
MÚSICO GETÚLIO RODRIGUES E EMPRESÁRIO JOSÉ CARLOS DE MEDEIROS, DO CARTÓRIO DE OFÍCIO DE REGISTROS DE IMÓVEIS E DOCUMENTOS DE URUGUAIANA (RIO GRANDE DO SUL/BRASIL)

: IRMANADOS SOBRE MOTORES E RODAS
Depois dessa infortunada experiência nunca mais tentei comandar algo que tivesse duas rodas e que não fosse uma bicicleta. Até me desinteressei para sempre em adquirir uma moto embora a considere um veículo bonito e um símbolo de liberdade.

2001. Outra tarde morna, 22 anos depois daquele tombo,já na reserva e há 16 anos atuando como repórter e amargando o primeiro ano de minha separação. Eu estava com meu filho Gabriel, de 5 anos, na Praça Argentina, ao lado da Avenida Presidente Vargas, principal avenida da cidade. Foi quando lembrei do pedido do empresário Paulo Blanco, uma figura inesquecível que fazia parte de um grupo de motociclistas viajantes.
ANTES DE PEGAR A ESTRADA, O CLIMA É DE EUFORIA E DE EXPECTATIVA DO TÃO ESPERADO MOMENTO DE FAZER RONCAR OS MOTORES E SE TORNAREM LIVRES COMO O VENTO

Foi quando em um caderninho de meu filho, que escrevi a Oração do Motociclista. Para compor, apenas me transportei em imaginação para cima de uma possante moto estradeira e viajei por uma infinita estrada. Estava solitário nesse delírio, mas as frases vieram uma a uma se encaixando perfeitamente no que eu sentia. Estava seguro porque sabia que se caísse do meu pensamento, não iria me machucar. Os versos, a pedido do grupo de motociclistas Desgarrados da Fronteira, foram gravados em CD pela voz primorosa do radialista Paulo Santana, da 96 FM.



A oração, com trilha sonora de grandes sucessos do rock pop internacional, completando a gravação, foi apresentada para mais de 400 motociclistas do Estado em Uruguaiana no ano de 2012. A oração não é minha, pode ser adotada por qualquer grupo de aventureiros motociclistas do Mundo inteiro. Me lisonjeio em saber que estarei na garupa de cada um deles singrando com suas super-máquinas, os caminhos que levam a qualquer destino.