CRÔNICAS DE UM CRONISTA
CRÔNICO
O MILAGRE DAS ÁGUAS
Autor: César Fantti
Nesta manhã, tomando chimarrão, sentei-me a olhar a chuva
pela porta dos fundos de minha casa. Meus pensamentos remeteram à saga
científica humana em busca de água em outros corpos celestes, na vastidão do
Universo. O homem investe milhões em equipamentos de sofisticada engenharia
espacial para descobrir se existe vida fora da Terra, e vestígios de água é o
principal sinal.
Ele, supostamente, já teria encontrado água congelada nas
luas de Saturno e cursos secos de rios em Marte. O homem sabe que a vida de
nosso planeta se extingue lentamente por causa das agressões praticadas por ele
próprio, e, por isso, busca obstinadamente descobrir outro lugar que ofereça
ambiente ideal para a salvação da raça humana, caso não seja mais possível
sobreviver em seu próprio habitat.
Enquanto ele faz isso, limito-me olhar a chuva que cai dadivosa
sobre o abacateiro em frutos no pátio do vizinho. Seus pingos molham cada
centímetro da terra sedenta, correm pelos telhados e calhas, precipitam-se no chão,
correm por valetas e grotões, inundam cidades e plantações e retornam para
rios, lagos e mares, de onde subiram para os céus em forma de vapor; reciclando
a vida e à vida dando garantia.
Depois que a chuva cessa ou fica amena, a natureza festeja. Vejo
pingos de água no varal, nas folhas, galhos e frutos do abacateiro e os
pássaros chafurdando as penas molhadas. Concluo que os cientistas têm razão na
urgência de comprovar a existência de água fora de nosso planeta porque,
infelizmente, nossos recursos hídricos são finitos. Enquanto isso me detenho
sempre para ver o espetáculo das águas pelo telescópio de minha porta.