quarta-feira, 18 de novembro de 2015

A QUADRA AZUL DA MINHA INFÂNCIA


Pular corda: brincadeira saudável que estimula o desenvolvimento físico e de todos os sentidos, inclusive os de formação do caráter porque exige a noção de trabalho em equipe


Costumo dizer que “a infância é uma quadra azul de sonhos na qual brincamos livres e inconscientes da realidade”. Morei 31 anos no final da atual Rua Gregório Beheregaray Filho, antiga 27 de Outubro, entre Marechal Floriano Peixoto e Marechal Deodoro da Fonseca. Fui o último dos sete filhos, cinco mulheres e dois homens, a sair de casa para casar.

Ainda vivendo com meus pais, escrevi na década de 1980 o poema que transcrevo a seguir em que busquei “pintar com palavras” o que acontecia na minha quadra de chão batido onde fazíamos muita algazarra e correrias. Quero partilhar com vocês essa minha criação de pretenso poeta:

Nesta foto, resgatada pela minha prima Angélica Fantti, de Porto Alegre, eu, ela e meus irmãos brincávamos nas águas do Rio Uruguai, na praia da Ilha da Pintada. Naquele tempo, quase não havia poluição, pisávamos em areia pura e éramos inocentes. O "magrelo" que está com a bola sou eu


QUADRA AZUL

César Fantti
Nesta linda tarde domingueira
Doura o sol brilhante a minha rua,
Antes tão sossegada e nua.
Hoje, esquecida dos danos,
Do vai e vem desses cotidianos
Volta a ser menina e faceira.
Nas ruas de Uruguaiana, ainda hoje, na periferia, é possível ver a gurizada jogando futebol, principalmente aos fins de tarde e feriados. O grito de "para a bola" era frequente por causa da aproximação de carros

Abro a janela e vejo nas calçadas,
O corre-corre alegre e alvissareiro
Das crianças contra o tempo passageiro,
Que só querem brincar com a tarde,
Porque vem a noite e apaga a claridade
Trazendo horas e escuras e caladas.

Mas crianças sonhadoras,
Não entendem a natureza.
O que vale é a certeza,
De verem brotar do chão,
Bem ao alcance das mãos,
As formiguinhas voadoras.

A tarde peregrina,
Sem ter pressa de ir embora,
Vê florir um pé de amora,
No quintal de seu Ernesto,
Que dormindo imita o gesto,
De beijar sinhá Carolina.
As brincadeira nas áreas verdes da cidade são comuns. lembro-me do "matinho" do seu Félix, que tomava conta de quase todo o quarteirão e onde era proibido entrar. Mesmo assim, invadíamos movidos pelo desejo de aventuras e éramos felizes, em um tempo sem malícias e os modernismos de hoje







segunda-feira, 2 de novembro de 2015

MINHA PRIMEIRA...MINHA ÚLTIMA...MEU TUDO!






Minha Primeira, Minha Última, Meu Tudo...


"Amei verdadeiramente todas as mulheres que tive e aprendi a esquecê-las quando vi no coração delas aridez de sentimentos"

Hoje, no BLOGUEIRO DO FIM DO MUNDO, não tenho nenhuma história para contar. Quero apenas falar dos amores que tive em uma explícita homenagem as mulheres que me fizeram feliz e que me fizeram sofrer.




Certo dia perguntaram-me se uma pessoa ama apenas uma vez. Respondi que o amor é uma chama viva, e o outro amor que chega apaga o que se foi, reacendendo no coração uma nova chama, como um copo que se coloca brevemente sobre uma vela a abafando por instantes e, ao ser retirado, oxigena o fogo da paixão.


Nessa Sessão Musical do Blog, a canção de Barry White, "You’re First, My Last, My Everything" (Minha Primeira, Minha Última, Meu Tudo/legendada), sintetiza tudo o que penso dos amores findos e dos amores que hão de nascer...








BREVE HISTÓRICO DESSA SESSÃO MUSICAL: O norteamericano Barry White (Barrence Eugene Carter), marcou sua trajetória musical como cantor, compositor, maestro e produtor musical nas décadas de 1960 ao início dos anos 2000. Morreu em 2003 aos 59 anos, em Los Angeles, vitimado por falência renal. Sua voz grave marcou seu estilo e carisma na Soul Music e na Disco Music. 










sexta-feira, 30 de outubro de 2015

A HISTÓRIA DO BOLO GIGANTE QUE UNIU O POVO DE UMA CIDADE





Esse flagrante da vida real que relato para vocês me remete ao tempo de meninice quando festejava os bolos caseiros que a doceira Adelaide Fantti Carrazzoni fazia com habilidade divina. Minha querida irmã produzia essas guloseimas de todos os tamanhos e formas e com os mais variados recheios transformando suas criações em verdadeiros "manjares dos deuses". Gente de todos os cantos da cidade a procurava para encomendar suas gostosuras, mas não lembro de uma com mais de um metro de comprimento.





BARRA DO QUARAÍ, MUNICÍPIO LOCALIZADO NA FRONTEIRA TRINACIONAL ENTRE O BRASIL, A ARGENTINA E O URUGUAI.ESTA É A RUA SALUSTINO MARTY, A PRINCIPAL DA CIDADE, ONDE TUDO ACONTECE. ESTE ÂNGULO MOSTRA A DISTANTE PERSPECTIVA DE PROGRESSO QUE O MUNICÍPIO NUNCA TERIA, SE NÃO SE EMANCIPASSE DE URUGUAIANA, LOCALIZADA BEM AO FUNDO, NO PLANO DO HORIZONTE, A PERDER DE VISTA. SÃO 70 QUILÔMETROS DE DISTÂNCIA.

Transcorria o dia 22 de outubro de 2015 quando me desloquei até a fronteira trinacional entre o Brasil, Argentina e Uruguai. Queria descobrir que segredo guardavam as autoridades de Barra do Quaraí, pequeno povoado de 4.200 moradores,  na divisa entre os três países.

A manhã de Primavera com céu de anil e temperatura amena brindaram os barrenses no dia em que o município se preparava para comemorar 20 anos de emancipação política de Uruguaiana. A quadra da rua principal que corta a cidade tinha sido fechada e uma estrutura com palco, estandes para exposições de produtos e brinquedos infláveis começava a ser montada para a festa.

Mas o que eu buscava não estava nesse local. Sabia que toda a população esperava para vê-lo. Aliás, mais que desejam ver, queriam comê-lo. Em meio à algazarra alvissareira das crianças levadas pelas professoras das duas escolas públicas da cidade para os festejos, saí da rua e entrei no salão paroquial da igrejinha e me deparei com o segredo: um bolo de 20 metros de comprimento.
O gigantesco bolo de 20 metros que levou quatro dias para ser produzido, recebeu recheio de doce de leite e de doce de ovos. Foi necessário convocar um matemático para calcular a quantidade certa de ingredientes para que a massa ganhasse consistência



Montado encima de mesas, o bolo gigante se estendia de um extremo a outro do salão, quase a perder de vista (veja o vídeo ao final desse documentário). Fiquei impressionado com a novidade e interpelei dona Vera Guirland, uma senhora com jeito daquelas vovós da literatura infantil. De lenço na cabeça e entretida na feitura da obra, me contou como coordenou a equipe de colaboradoras da comunidade para fazer o bolo:-levamos quatro dias para fazer e não tenho ideia do que gastamos-, disse sem levantar a cabeça, mas com sorriso de satisfação no rosto.

O prefeito Iad Choli, que conseguiu colocar Barra do Quaraí nos trilhos do desenvolvimento, comentava  que estava animado pensando na hora em que iria entregar a delícia para o povo saborear, feita com recheios de doce de leite e doce de ovos. O banquete popular estava programado para o encerramento das comemorações. O bolo foi dividido em 20 pedaços de um metro de comprimento, um metro para cada ano em que os valentes barrenses aguentaram sem a tutela do município mãe. 

O PREFEITO IAD CHOLI (C), DE GRAVATA VERMELHA, RECEBEU AS AUTORIDADES CONVIDADAS E OS LÍDERES EMANCIPACIONISTAS PARA SABOREAR O DELICIOSO BOLO GIGANTE COBERTO COM GLACÊ SOBRE O QUAL FORAM PINTADAS AS BANDEIRAS DE BARRA DO QUARAÍ E DO BRASIL


Depois de receber a cobertura de glacê, o imenso bolo foi decorado com as bandeiras da cidade e do Brasil. - Pelos meus cálculos, mais de 2.000 pessoas irão provar as fatias, nessa festa democrática-, afirmou o mandatário da pequena cidade. Fiquei sabendo que foi necessária a convocação de um matemático para mensurar a quantidade de farinha, fermento, água e demais ingredientes para que o bolo tivesse a conssistência necessária.
DONA VERA GUIRLAND, 62 ANOS. MUITO EMPENHO PARA FAZER, JUNTAMENTE COM UMA EQUIPE DE CONFEITEIRAS, O BOLO DE ANIVERSÁRIO DE BARRA DO QUARAÍ. QUATRO DIAS DE TRABALHO PARA FAZER UMA OBRA PRIMA QUE RENDEU MAIS DE 2.000 PEDAÇOS PARA A POPULAÇÃO BARRENSE E CONVIDADOS




Infelizmente, não pude provar a gostosura, mas fiquei sabendo que os barrenses lotaram a rua e fizeram imensas filas para provar o bolo que em pouco tempo foi devorado com a mesma ânsia de progresso que toma conta de todos em Barra do Quaraí, na confluência entre os rios Uruguai e Quaraí.

Pp








Pego a estrada com a clara impressão de que desde os primórdios, o sentido gregário impediu a extinção da raça humana. Lugares como Barra do Quaraí, por força de sobrevivência, se transformam em uma grande família com suas características e pessoas com diferenças intrínsecas de caráter e de personalidade, como é natural em uma comunidade miscigenada mas,. acima de tudo, ciente de que precisa estar unida para crescer.


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

ORAÇÃO DO MOTOCICLISTA: COMO A CRIEI SEM NUNCA TER ME AVENTURADO SOBRE DUAS RODAS


Oração do Motociclista
MOTOCICLISTAS DO RIO GRANDE DO SUL (BRASIL), PEGAM A ESTRADA PARA MAIS UM INESQUECÍVEL ENCONTRO EM QUE VIVEM AS EMOÇÕES DE SEREM OS DEVORADORES DE DISTÂNCIAS


Autor: César Fantti


Quando acelero, Senhor!
Cada palmo dessa imensa estrada
É uma gloriosa conquista desse pequeno ser
Que sou diante de Ti...

Quando acelero, Senhor!
A paisagem rápida do caminho,
Rebobina um filme antigo,
Misto de drama e comédia
Que eu fingia ter esquecido...

Quando acelero, Senhor!
Rasgo distâncias, crendo que assim,
Estou me aproximando de Ti...

Quando acelero, Senhor!
Sou o vento libertário
Que viaja sem fronteiras,
Irmanando povos
E partilhando felicidade...

Quando acelero, senhor!
Minha máquina, possante e pesada,
Voa para além do arco-íris,
Para a luz da esperança,
Reafirmando o meu destino de ser,
Hoje e sempre,
Um desgarrado sem fronteiras!

EM OUTUBRO DE 2015, CENTENAS DE MOTOCICLISTAS DE VÁRIAS CIDADES DO RIO GRANDE DO SUL SE CONCENTRARAM NA CIDADE DE ROSÁRIO DO SUL, NA FRONTEIRA OESTE DO ESTADO, ONDE COMEÇARAM A VIVER AS EMOÇÕES DE MAIS UM ENCONTRO DESSA GRANDE IRMANDADE. ELES PARTICIPAM ANUALMENTE DO ENCONTRO DE MOTOCICLISTAS "ABRAÇANDO A FRONTEIRA" 
Era uma tarde morna àquela de 1979 quando, depois de almoçar no Cassino dos Sargentos, no 22º Grupo de Artilharia de Campanha, em Uruguaiana, na fronteira do Brasil com a Argentina, fui aproveitar o intervalo no estacionamento sob o bosque de eucalipto.Tinha  19 anos e já sentia o peso de três divisas em meu uniforme verde-oliva do Exército brasileiro, mas o rapaz com os arroubos naturais da juventude estava latente dentro de mim.

Foi quando pedi a um colega de caserna que me emprestasse a motocicleta a fim de aprender a pilotar. Não foi uma boa ideia. Orientado por ele, subi na máquina. Acho que era uma Honda CG-125 cilindradas, daquelas altas. Devo ter acelerado muito e soltado a embreagem de uma só vez. A moto saltou para a frente como um cavalo indomado. Caí de costas no chão e o veículo rodou vários metros até tombar trepidando na relva.
MÚSICO GETÚLIO RODRIGUES E EMPRESÁRIO JOSÉ CARLOS DE MEDEIROS, DO CARTÓRIO DE OFÍCIO DE REGISTROS DE IMÓVEIS E DOCUMENTOS DE URUGUAIANA (RIO GRANDE DO SUL/BRASIL)

: IRMANADOS SOBRE MOTORES E RODAS
Depois dessa infortunada experiência nunca mais tentei comandar algo que tivesse duas rodas e que não fosse uma bicicleta. Até me desinteressei para sempre em adquirir uma moto embora a considere um veículo bonito e um símbolo de liberdade.

2001. Outra tarde morna, 22 anos depois daquele tombo,já na reserva e há 16 anos atuando como repórter e amargando o primeiro ano de minha separação. Eu estava com meu filho Gabriel, de 5 anos, na Praça Argentina, ao lado da Avenida Presidente Vargas, principal avenida da cidade. Foi quando lembrei do pedido do empresário Paulo Blanco, uma figura inesquecível que fazia parte de um grupo de motociclistas viajantes.
ANTES DE PEGAR A ESTRADA, O CLIMA É DE EUFORIA E DE EXPECTATIVA DO TÃO ESPERADO MOMENTO DE FAZER RONCAR OS MOTORES E SE TORNAREM LIVRES COMO O VENTO

Foi quando em um caderninho de meu filho, que escrevi a Oração do Motociclista. Para compor, apenas me transportei em imaginação para cima de uma possante moto estradeira e viajei por uma infinita estrada. Estava solitário nesse delírio, mas as frases vieram uma a uma se encaixando perfeitamente no que eu sentia. Estava seguro porque sabia que se caísse do meu pensamento, não iria me machucar. Os versos, a pedido do grupo de motociclistas Desgarrados da Fronteira, foram gravados em CD pela voz primorosa do radialista Paulo Santana, da 96 FM.



A oração, com trilha sonora de grandes sucessos do rock pop internacional, completando a gravação, foi apresentada para mais de 400 motociclistas do Estado em Uruguaiana no ano de 2012. A oração não é minha, pode ser adotada por qualquer grupo de aventureiros motociclistas do Mundo inteiro. Me lisonjeio em saber que estarei na garupa de cada um deles singrando com suas super-máquinas, os caminhos que levam a qualquer destino.




domingo, 27 de setembro de 2015

UMA ROSA COM AMOR ÀS ARTES: A FANTÁSTICA HISTÓRIA DE UMA MULHER QUE VOLTOU A PINTAR AOS 70 ANOS






ROSA CHADANIAN,, ARGENTINA DE BUENOS AIRES TRANSFORMOU AOS 74 ANOS O SONHO EM REALIDADE, DEPOIS DE VÊ-LO FRUSTRADO QUANDO TINHA 16 ANOS

Todos nós temos tipos  inesquecíveis de pessoas fora de nossos vínculos consanguíneos ou do círculo de amigos. Eu mesmo, tenho alguns, mas vou me deter em alguém que conheci em Uruguaiana, na fronteira do Brasil com a Argentina. A noite, no bar, naquele julho de 2012 tinha tudo para ser apenas mais uma em que me divertiria, mais ouvindo as baladas do artista que cantava ao vivo na casa noturna bem frenquentada, na esquina entre as ruas Andradas e Vasco Alves, hoje desativada.

Com meus pensamentos mergulhados na taça de vinho argentino, famoso pela boa qualidade, muito comum de encontrar nas noites de inverno da cidade, vi alguém avançar dançando para a pista vazia. A figura, na penumbra e salpicada por raios coloridos emitidos por um pequeno aparelho de efeitos luminosos, era de uma senhora de aproximadamente 70 anos. Ela dançava solitária, com leveza e graça, entregue à magia da noite, o que chamou atenção dos demais frequentadores.

Elegantemente vestida usando roupas pretas com blazer de corte até à cintura e de tecido brilhante, dançava consigo mesma como se estivesse na ribalta. Deduzi que estava diante de alguém com talento para brilhar, ao estilo de grandes vedetes. Quando saiu da pista, não me contive e aplaudi o que o pequeno grupo de notívagos também o fez. Passou pela mesa onde eu estava e me cumprimentou com leve menear da cabeça. Pude ver que era uma senhora ruiva, de cabelos crespos e de olhos azuis que sentou-se à mesa perto da entrada do bar. Estava acompanhada por um senhor que depois descobri ser irmão dela.
A DAMA QUE GOSTA DE DANÇAR É UMA INCRÍVEL ARTISTA PLÁSTICA


Ao verem a dama voltar para a pista, quase todos não resistiram, inclusive eu, e se juntaram a ela, contagiados pela alegria de viver daquela senhora. Quando  paravam de dançar, ela ficava ainda mais um pouco, sempre no mesmo ritmo suave e solitário, interagindo com todos junto às mesas. Dançamos separados, vez em quando, ao longo da noite. Bebemos e conversamos, eu, ela e o irmão. Eram argentinos, de Buenos Aires. Ele mora em Uruguaiana e ela na capital porteña. Depois daquela noite nunca mais a vi.

Julho de 2015. Havia mudado de endereço para a Rua vasco Alves, onde funciona o estabelecimento comercial do irmão, na esquina com à Rua General Câmara. Roberto Chadanian estava sentado na calçada oposta do prédio onde vende móveis e utensílios usados. Ao seu lado, estava Rosa Chadaniam. Nosso reencontro foi inesperado. Ela estava animada e tratou logo de mostrar o projeto em que estava envolvida.

Era a Exposição Sonho e Realidade, uma mostra de sua autoria com mais de 20 belas telas pintadas com a utilização de várias técnicas. - A senhora é artista plástica?- perguntei, surpreso, enquanto olhava as fotografias de seu portfólio. - Sim, sou autodidata e pinto desde criança - afirmou. Dona Rosa estava definindo os últimos detalhes para a exposição de suas obras no Salão do Serviço Social do Comércio de Uruguaiana, o que levou a cabo no período de 4 a 29 de setembro com noite de abertura prestigiada por amigos brasileiros e argentinos.

NO CONVITE, O NOME DA EXPOSIÇÃO DE ROSA, UMA ALUSÃO AO SONHO QUE TORNOU REAL
Ela estava radiante porque realizara um sonho, expressão contida na denominação da mostra e isso tem uma origem. Aos 14 anos, Rosa havia realizado a primeira exposição em que vendeu todas as telas em Buenos Aires. Aos 16 anos, um marchand italiano a convidara para se aperfeiçoar em renomada escola de artes do país, mas Rosa fora proibida pela mãe, receosa em deixar a filha partir. Frustrada, a menina nunca mais pintou. Nos últimos seis anos, com quase 70, a artista que estava latente, falou mais alto e Rosa voltou a manusear pincéis, tintas e telas. De sua verve, brotaram belíssimas obras à óleo e acrílico. Usando cores vivas, pintou obras de seu imaginário com temática variada. Natureza, animais, borboletas e belas paisagens impressionam por serem todas únicas. A mensagem que meu tipo inesquecível, a dama que baila solitária nos salões deixa é de que nunca é tarde para realizar um sonho em vida.





     

domingo, 20 de setembro de 2015

"BOOM": ATENTADO À BOMBA EM URUGUAIANA, NO SUL DO BRASIL



O HOMEM BLINDADO CAMINHA LENTAMENTE NA DIREÇÃO DA BOMBA, DEIXADA NA FRENTE DE UM  BANCO ESTATAL EM URUGUAIANA, DE 130 MIL HABITANTES NO SUL DO BRASIL. O FATO PAROU A RELATIVAMENTE PACATA CIDADE POR OITO HORAS

11 de Setembro. Data emblemática que a Humanidade será obrigada a lembrar por muitos anos porque nesse dia a intolerância ceifou a vida de 3.000 inocentes no atentado às torres gêmeas do Word Trade Center, em Nova Iorque (USA). Seria mais uma sexta-feira normal na pacata cidade de Uruguaiana, no Sul do Brasil, na fronteira com a Argentina. O que viria a acontecer nas primeiras horas do dia iria mobilizar os 130 mil habitantes.

5:30. Um vigilante de empresa privada de segurança acelera a motocicleta para chegar até o banco estatal, no coração da cidade, onde o alarme tinha sido acionado. No local, cruza por um homem vestindo roupa preta com capuz da mesma cor na cabeça.  - é uma bomba, tem uma na porta e outra lá dentro – diz o estranho para o perplexo guarda. Na porta do banco, uma bolsa de plástico com marca de supermercado e outra dentro com marca de loja de sapatos continham algo de forma retangular embrulhado com fita adesiva parda.

DENTRO DE DUAS BOLSAS COM MARCAS DE UM SUPERMERCADO E DE UMA LOJA DE SAPATOS ESTAVA  O MISTERIOSO PACOTE QUE PAROU A CIDADE POR OITO HORAS




A bomba com uma luz vermelha piscando refletia na porta de vidro da agência. O agente imediatamente acionou a polícia militar que isolou o perímetro em uma área de 30 metros. O Grupo de Apoio Tático Especial (Gate), com especialistas em bombas, é acionado e parte de avião de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, com previsão de chegar duas horas depois.

Amanhece o dia e centenas de trabalhadores do comércio, agências bancárias e de prédios de escritórios e serviços encontram o perímetro isolado em um raio maior, de 150 metros. Curiosos se aglomeram atrás da faixa amarelo e preto usada para delimitar a área. Ninguém pode passar. Ambulância e viaturas dos Bombeiros, da Guarda Municipal, da Polícia Civil e da Militar se posicionam na Rua Duque de Caxias.

NESSE DIA, NINGUÉM CHEGOU ONDE PRETENDIA CHEGAR: HAVIA UMA BOMBA NO CENTRO
EM UM RAIO DE 100 METROS DO LOCAL DA BOMBA, O CENTRO DE URUGUAIANA VIROU ZONA PROIBIDA



Fotógrafos e repórteres de Rádio, TV e Jornais interpelam autoridades policiais para saber detalhes da operação. – entro correndo lá, pego essa bomba e levo para explodir no Rio Uruguai- diz o homem achando que tudo poderia ser mais simples, não fosse o mistério daquele pacote com luz piscando, a inevitável relação com o 11 de Setembro e haver clima de revolta de servidores públicos do Estado contra o governador que há meses paga os salários parcelados.
O FATO INUSITADO MANTEVE DE PLANTÃO EQUIPES DE REPÓRTERES
DE RÁDIO,TV E JORNAL

O Gate chega ao final da manhã. Começam então ações vistas somente antes em filmes. O vento que sopra forte no centro fazendo tremular as faixas de isolamento e sacudir as árvores derrubando folhas secas no asfalto aumenta o suspense quando é colocado em posição um robô semelhante a um pequeno tanque de guerra e um policial militar especialista no desarme de bombas começa a vestir pesada armadura blindada.
DA VIATURA DO GRUPO DE AÇÕES TÁTICAS ESPECIAIS (GATE), DA CAPITAL DO ESTADO, O ROBÔ ACIONADO POR CONTROLE REMOTO IRÁ FAZER O PRIMEIRO CONTATO COM A BOMBA

O robô parte primeiro rumo à porta do banco, arrancando com certa velocidade acionado por controle remoto do interior da viatura do Gate. – olha lá, igual ao meu que uso para jogar game no computador – diz o rapaz referindo ao joystick usado pelo operador do "tanquezinho". O Robô acessa a calçada pela rampa usada por cadeirantes e alcança a bomba. Silêncio sepulcral.
NA PORTA DO BANCO,  ROBÔ CONTROLADO A 50 METROS DE DISTÂNCIA PEGA A BOMBA. SUSPENSE E APREENSÃO DO PÚBLICO


Da engenhoca dotada de câmera sai um “braço” com mão mecânica que remove as bolsas de plástico. Elas são levadas pelo vento e revelam a bomba. Um pacote de aproximadamente 30 centímetros que é suspenso e escapa do robô caindo sobre a calçada. – nem há bomba lá porque caiu e não houve explosão - disse um espectador em tom decepcionado.

Após alguns minutos o robô é trazido pelo controlador. O policial com roupa blindada começa a se mover lentamente percorrendo cerca de 50 metros no tempo que caminharia uma quadra e meio com trajes normais. A cena é cinematográfica, como a de um astronauta passeando pelo solo lunar. Novo silêncio total. Seria o confronto de um homem contra uma bomba nunca visto antes na cidade. Um espetáculo gratuito e que poderia ter final surpreendente.
O POLICIAL MILITAR DO GATE ESPECIALISTA EM DESARMAR BOMBAS SE APROXIMA DO LOCAL DO ATENTADO


O homem blindado leva com ele um tipo de bastão e quando chega ao local se aproxima da bomba cautelosamente, se agacha e a inspeciona sem tocá-la. Momentos cruciais. Tudo pode ocorrer em uma situação limite como essa.  A expectativa tira o fôlego da platéia e fotógrafos amadores e profissionais se acotovelam para o melhor ângulo, mas o policial se levanta e sai lentamente do local deixando apontado para o pacote o bastão que levara.
O bastão nada mais é do que um canhão de jato d’água de altíssima pressão, usado para destruir artefatos como esse. Há certo alvoroço quando a polícia manda o público recuar. – vamos explodir. Atenção para a contagem: cinco... quatro...três...dois...um – grita o comandante da operação. Segue-se um estampido seco e o pacote é desmantelado em pedacinhos. Mas, para a frustração da platéia, não houve explosão.

PÚBLICO APREENSIVO ESPERA O MOMENTO DA DETONAÇÃO DA BOMBA

Policiais e autoridades presentes avançam para inspecionar o artefato. – trata-se de um simulacro de bomba, com estrutura de uma bomba, construído por quem entende de bomba, mas não era uma bomba – explicou redundante, o oficial comandante da ação.  A “bomba” continha fios azul e vermelho, dois canos de PVC com enchimento de argila em vez de pólvora e uma bateria de moto para manter a luzinha piscando. Foi feita varredura dentro da agência e não havia a segunda bomba anunciada pelo homem de capuz, que até hoje não foi identificado.

. A "BOMBA" NÃO PASSAVA DE UM SIMULACRO, ERA FALSA, MAS COM TODA A ESTRUTURA DE UMA BOMBA DE VERDADE. Foto: Miguel Castanini







NÃO QUERO PARECER MÓRBIDO, EM MAIS UMA DE TANTAS AVENTURAS COMO REPÓRTER AGORA APOSENTADO  E QUE NÃO PRETENDE PARAR DE CONTAR HISTÓRIAS, CONFESSO  QUE MINHA FRUSTRAÇÃO NÃO FOI MENOR DO QUE A DO PÚBLICO QUE ESPERAVA VER UMA EXPLOSÃO, NÃO TÃO GRANDE E DEVASTADORA, É CLARO 


Acompanhei junto com o público a operação e confesso ter experimentado a mesma frustração de todos que esperavam uma explosão, por mais mórbido que possa parecer. A faixa amarela e preta é rompida e todos caminham apressadamente para seus postos de trabalho.  São 13h de sexta-feira, 11 de Setembro de 2015. Não havia bomba e nem um maníaco terrorista que pretendesse por abaixo o prédio do Banco, para marcar o dia do famoso atentado. Mas ele conseguiu o objetivo, que era parar a cidade e provocar o caos.




domingo, 6 de setembro de 2015

OS CAÇADORES DE REMINISCÊNCIAS DO CENTRO URUGUAIANENSE EM PORTO ALEGRE




PSICÓLOGA E EDUCADORA LIZ IBARRA, DA PREFEITURA DE PORTO ALEGRE, CAPITAL DO RIO GRANDE DO SUL, NO BRASIL: "RETORNAR À TERRA NATAL É VOLTAR PARA DENTRO DE NÓS MESMOS"
Costumo dizer que quando alguém deixa a terra natal ocorre uma espécie de desterro emocional e psicológico. Passei por isso de 1993 a 1995 quando fui promovido de repórter ao cargo de coordenador regional da RBS TV, afiliada da Rede Globo na região da Campanha do Rio Grande do Sul. Moradores de Uruguaiana que por diversas razões tiveram de abandonar o lugar onde nasceram para irem morar em Porto Alegre, capital do Estado, encontraram uma forma de amenizar esse drama.

Eles fazem parte do Centro Uruguaianense em Porto Alegre, fundado há 60 anos para congregar quem teve de deixar as raízes formando uma comunidade e mais de 650 quilômetros da fronteira. Anualmente, o grupo formado em sua maioria por aposentados de várias profissões, retorna a Uruguaiana durante a Semana da Pátria, onde cumprem agitada agenda que faz da  estada deles aqui uma festa permanente e eu achei que devia acompanhá-los.

No final de semana que antecedeu ao 7 de Setembro, parte do grupo de 50 visitantes participou de vários eventos. No Estádio Felisberto Fagundes Filho, na "Baixada", participaram de uma partida de futebol festiva quando os veteranos do Centro Uruguaianese enfrentaram os veteranos da equipe jalde-negra. Entre os integrantes do grupo, o contabilista da ativa Nelson Visentainer, de 70 anos, esbanjou vitalidade e alegria.
CONTABILISTA DA ATIVA EM PORTO ALEGRE (RS)

, NELSON VISENTAINER, 70 ANOS, ESBANJOU VITALIDADE AO PISAR MAIS UMA VEZ NO TORRÃO NATAL; URUGUAIANA, NA FRONTEIRA DO BRASIL COM A ARGENTINA

Campeão estadual de futebol de salão pelo Esporte Clube Juventude, de Caxias do Sul, no início da década de 1960; entrou em campo no segundo tempo e quando tocou na bola mostrou habilidade em um drible curto para a direita tirando o adversário, mais jovem, da jogada; e dando um belo passe para o ataque.

PRESIDENTE MARIA APARECIDA LISBOA FERNANDES, "CIDA",  QUE LEVOU A ESCOLA DE SAMBA BAMBAS DA ALEGRIA AO TÃO SONHADO PRIMEIRO TÍTULO DE CAMPEÃ DO CARNAVAL FORA DE ÉPOCA DE URUGUAIANA, ALIOU-SE À FESTA DAQUELES QUE VOLTARAM ÀS RAÍZES
Na sequência da programação, o grupo foi participar de churrasco oferecido pela diretoria da Escola de Samba Bambas da Alegria, atual campeã do Carnaval Fora de Época de Uruguaiana. Novamente, o espírito festeiro do grupo tornou o encontro uma grande celebração de alegria e risos. Wisentainer mostrou que tem samba no pé ao tirar para dançar a presidente da escola Maria Aparecida Lisboa Fernandes, a "Cida". "Ele me deu um cansaço", comentava depois, ofegante, a carnavalesca.

LIZ IBARRA SOLTA A VOZ NA TERRA ONDE NASCEU
Quem também não resistiu o clima de confraternização foi a psicóloga e educadora da Prefeitura de Porto Alegre Liz Ibarra. Cantando com o grupo de pagode da Bambas, interpretou ótimo repertório de música popular brasileira e exibiu uma bela e afinada voz. "Voltar a Uruguaiana é retornar às origens, é rever tudo que deixamos e não queremos esquecer, é voltar para dentro de nós mesmos", afirmou Liz. Na noite de sábado (5/setembro), os caçadores de reminiscências foram ao baile do Clube Caixeiral e no dia da pátria, desfilaram solenemente na Avenida Presidente Vargas, como fazem há 16 anos, desde que começaram a viajar para dentro de si mesmos, retornando à terra natal.
INICIALMENTE, ACOMPANHEI DE LONGE O REENCONTRO EMOCIONADO DOS FILHOS DE URUGUAIANA COM A TERRA ONDE NASCERAM, MAS DEPOIS NÃO RESISTI E ME INTEGREI À ALVISSAREIRA FESTA DOS CAÇADORES DE REMINISCÊNCIAS