Desde
menino, ouvi falar da história da índia Diacuí e o romance com o
sertanista uruguaianense Ayres Câmara Cunha, que comoveu o Brasil
inteiro no começo da década de 1950. Lembro-me que minha irmã
Adelaide Fantti Carrazoni, quando adolescente, era chamada pelo meu
pai Marinho Nunes Fantti, de “Diacuí”, porque tinha o cabelo
liso com franjinha, lembrando a famosa indígena brasileira, da Tribo
Kalapalos, do Alto Xingu.
Quando
comecei a atuar na Imprensa, há mais de 30 anos, tive oportunidade
de conhecer Ayres Cunha em reportagem para a televisão, no Sítio
Thebaida, onde vivia às margens da BR-290, mas nunca me encontrei
com Diacuí. Em 29 de julho passado, o destino me colocou frente a
frente com a filha do sertanista e de sua amada silvícola. Uma
senhora de altura mediana, de rosto magro e cabelos curtos, bem
apessoada e muito diligente a todos com quem conversava.
Diacuí
Cunha Dutra, filha única e legítima do casal, hoje com 61 anos,
estava acompanhada pelo jornalista e produtor cultural gaúcho
Duclerc Silva, que a ajuda no resgate da memória do pai e na
divulgação da expedição que levou de volta às terras selvagens
onde sua mãe e Cunha viveram, mesmo contra todo o preconceito da
sociedade brasileira da época que o acusava de querer se promover e
de apoderar das terras indígenas. Mesmo assim, o sertanista, que
conheceu Diacuí quando desbravava a selva como integrante do Serviço
de Proteção ao Índio, durante a expedição Roncador Xingu, nunca
desistiu do amor que sentia por ela.
![]() |
A inóspita selva do Alto Xingu por onde em 1943, penetrou a expedição que levou o uruguaianense Ayres Câmara Cunha ao encontro daquela que seria o grande amor de sua vida |
Realizada
em 1943, na região do Brasil Central, durante o Governo Vargas, a
expedição que se estendeu até 1949 tinha como missão desbravar
áreas inóspitas da selva de Mato Grosso. Quando encontrou a etnia
Kalapalo, conheceu no meio da floresta e se apaixonou por Diacuí,
foi quando decidiu que ela seria a sua mulher. No entanto, a
incompreensão do romance não partiu do meio selvagem, mas do homem
branco que considerou o caso escandaloso.
Da
selva para a megalópole, no Rio de Janeiro, Aires Cunha levou três
meses para conseguir oficializar o casamento. Diacuí, pela primeira
vez, cobriu a sua nudez e com um belo vestido de noiva e na igreja
da Candelária, em 1952, diante de milhares de pessoas e flashes de
fotógrafos, uniu-se ao homem branco. Os problemas da jovem índia e
do sertanista aventureiro estavam apenas começando. Assis
Chateaubriand, criador da TV brasileira e à época editor da famosa
Revista Cruzeiro, explorou o fato em reportagens seriadas.
![]() |
Diacuí, pela primeira vez, cobre sua nudez para unir-se ao amado em cerimônia na civilização do homem branco |
Isso
ajudou a celebrizar o caso e aumentar o preconceito, mas o amor
inusitado superou tudo. Um ano após o casamento Diacui morrera
precocemente, deixando o sertanista com a filha pequena que fora
batizada com o mesmo nome da mãe. Cunha pegou a menina e abandonou a
floresta para vir morar com ela em Uruguaiana, na Fronteira Oeste do
Rio Grande do Sul, na fronteira do Brasil com a Argentina. Na
civilização, nunca mais havia retornado às terras onde sua mãe
viveu

Ela
desembarcou em Canarana (MT) onde estava sendo esperada por mais de
dez índios do Xingu. O relato é de que o encontro foi repleto de
abraços apertados e longos, de olhares furtivos e observadores,
lágrimas de reencontro e a tão sonhada aproximação. Conta Duclerc
que antes de se aventurar selva adentro, o entrelaçamento no hotel
com os peles vermelhas varou a madrugada, mas o amanhecer já
assinalava que era hora de dormir e a jornada até a Aldeia Matipu
seria longa. Horas depois, entraram na floresta e nem a expedição
cansativa diminuiu a ansiedade e a euforia de Diacuí e de seu
amigos.
![]() |
Encontro de Diacuí Cunha Dutra com parentes seus, da etnia kalapalo, no hotel em Canarana (MT) |
![]() |
Os índios kalapalos fizeram festa para receber a caravana de Diacuí e rever a parente que voltara ao lar, exibindo os rituais perpetuados de geração em direção |
Em breve relato, ela me contou como foi o reencontro com as verdadeiras raízes dela e de todos nós, brasileiros. “Pra onde eu ia me seguiam e, curiosos, me tocavam”, me disse Diacuí. Na selva, comeram carne de macaco que tem sabor de capivara e vários tipos de purês de farinha. Dormiram em oca ou taba e viveram os momentos mais mágicos de suas vidas na floresta que serão relatados em detalhes nas páginas do livro que está sendo escrito por Duclerc, e em documentário rico em imagens e sons do reencontro de Diacuí na terra onde nasceu e onde seus pais viveram o mais incrível romance da vida real.
Amigos: recomendo mais uma vez essa leitura em que relato a incrível história da índia Diacuí Kalapalo, da selva do Alto Xingu, e seu romance cinematográfico com o sertanista Ayres Câmara Cunha, de Uruguaiana (RS), Brasil, Uma contribuição inestimável para a cultura e história do nosso Brasil.
ResponderExcluirAmigos: recomendo mais uma vez essa leitura em que relato a incrível história da índia Diacuí Kalapalo, da selva do Alto Xingu, e seu romance cinematográfico com o sertanista Ayres Câmara Cunha, de Uruguaiana (RS), Brasil, Uma contribuição inestimável para a cultura e história do nosso Brasil.
ResponderExcluirO Ayres era meu tio avô. Pena que não tenho muitas informações sobre ele, tive pouco contato com ele quando era pequena. abraço e parabéns pela iniciativa! Carla Cunha
ResponderExcluirO Ayres era meu tio avô. Pena que não tenho muitas informações sobre ele, tive pouco contato com ele quando era pequena. abraço e parabéns pela iniciativa! Carla Cunha
ResponderExcluirObrigado por prestigiar meu trabalho Carla. Deves sim ter muito orgulho de teuavô...
ExcluirQue linda história, me considero totalmente india apesar das misturas de raças em minha linhagem, e fiquei encantada com esse relato que até então desconhecia, um tanto parecido com o filme O Novo Mundo de Terrence Malick - romance. Até fiquei pensando se não foi baseado nessa história real de Diacui rsrs. Parabéns pelo lindo trabalho que contribuiu para o meu conhecimento.
ResponderExcluirHoje li e vi muita coisa sobre a India Diacui para uma amiga brasileira aqui na Alemanha que já tinha enviado carta em 2008 para FUNAI pedindo informaçoes, mas não obteve nenhuma resposta..adoramos saber sobre a india Diacui. Obrigada ism61@gmx.de
ResponderExcluirPassei minha infância, pescando na barragem ali junto a policia rodoviária na br290 saida de uruguaiana, muitos churrascos e trairas fritas aos fins de semana no galpao, alimentado de luz por um catavendo da propriedade, a duacui ja era uma senhoras mulher. Mas o aires era um bonaxao isto nos inicio dos anos 1980. Parabens pessoal por me lembras de historias de uruguaiana querida.
ResponderExcluirComo é bom relembrar o passado,a minha avó neta de uma Índia da Tribo dos Guarás do Paraná recebia todos os meses em casa um exemplar da Revista O Cruzeiro e quando me mudei para Arapongas norte do Paraná logo fui estudar o primário e em 1962 já sabendo ler encontrei seus exemplares da Revista O Cruzeiro e tive o previlegio de ler tudo sobre Diacui...Bem hoje estou com 66 anos e volto a recordar sobre esse amor na Selva, gostaria de saber como e onde adquirir o livro...moro em Londrina Paraná meu contato é 043991450073... Paulo Sérgio de Souza...
ResponderExcluirO meu filho terminou de ler o livro e fui procurar fotos na internet e achei essa página. Muito obrigado.
ResponderExcluirSou de Porto Alegre, RS
Nesta madrugada do dia 29 de junho de 2021, acordei depois de ter um sonho sobre a Índia Diacui,que no ano de 1952 foi muito falada no Rio de Janeiro Capital da Republica do Brasil, pelo seu casamento com hum homem branco na igreja da Candelária, mas ela teve câncer, que acabou com a sua vida, nessa época eu tinha 14 nos de idade !!!
ResponderExcluirQua do adolescente, li a matéria que contava a história e mostrava fotos da Diacui também adolescente. Havia fotos dela na escola e fiquei muito impressionada com toda a história. Nunca esqueço. Tenho, hoje, 65 anos e lembro de tudo. Emociknada com essa matéria e fotos recentes de Diacui!
ResponderExcluirGostaria de comprar o livro qual o nome?! E o autor?!
ResponderExcluir