sábado, 1 de agosto de 2015

Amor de índia e homem branco rompe as barreiras da civilização





Diacuí Kalapalo e o desbravador de selvas Ayres Câmara Cunha: do encontro no meio da floresta do Alto Xingu nasceu um amor improvável que superou todos os preconceitos da sociedade brasileira  do início da Década de 1950, que não aceitava o romance de um homem branco com uma índia 




Desde menino, ouvi falar da história da índia Diacuí e o romance com o sertanista uruguaianense Ayres Câmara Cunha, que comoveu o Brasil inteiro no começo da década de 1950. Lembro-me que minha irmã Adelaide Fantti Carrazoni, quando adolescente, era chamada pelo meu pai Marinho Nunes Fantti, de “Diacuí”, porque tinha o cabelo liso com franjinha, lembrando a famosa indígena brasileira, da Tribo Kalapalos, do Alto Xingu.

Quando comecei a atuar na Imprensa, há mais de 30 anos, tive oportunidade de conhecer Ayres Cunha em reportagem para a televisão, no Sítio Thebaida, onde vivia às margens da BR-290, mas nunca me encontrei com Diacuí. Em 29 de julho passado, o destino me colocou frente a frente com a filha do sertanista e de sua amada silvícola. Uma senhora de altura mediana, de rosto magro e cabelos curtos, bem apessoada e muito diligente a todos com quem conversava.
Mais de 30 anos depois de conhecer e entrevistar para a televisão o sertanista Ayres Câmara Cunha, tive a oportunidade em julho de 2015 de conhecer a filha legítima dele, do casamento do primeiro homem branco uma uma índia: Diacúi Cunha Dutra, 61 anos, mesmo nome da mãe, viveu a emocionante aventura de percorrer as trilhas do pai até a aldeia do Alto Xingu, no Mato grosso, onde viveu inesquecíveis emoções ao conhecer o lugar onde o amor entre Cunha e Diacuí Kalapalo floresceu

Diacuí Cunha Dutra, filha única e legítima do casal, hoje com 61 anos, estava acompanhada pelo jornalista e produtor cultural gaúcho Duclerc Silva, que a ajuda no resgate da memória do pai e na divulgação da expedição que levou de volta às terras selvagens onde sua mãe e Cunha viveram, mesmo contra todo o preconceito da sociedade brasileira da época que o acusava de querer se promover e de apoderar das terras indígenas. Mesmo assim, o sertanista, que conheceu Diacuí quando desbravava a selva como integrante do Serviço de Proteção ao Índio, durante a expedição Roncador Xingu, nunca desistiu do amor que sentia por ela.

A inóspita selva do Alto Xingu por onde em 1943, penetrou a expedição que levou o uruguaianense Ayres Câmara Cunha ao encontro daquela que seria o grande amor de sua vida 
Realizada em 1943, na região do Brasil Central, durante o Governo Vargas, a expedição que se estendeu até 1949 tinha como missão desbravar áreas inóspitas da selva de Mato Grosso. Quando encontrou a etnia Kalapalo, conheceu no meio da floresta e se apaixonou por Diacuí, foi quando decidiu que ela seria a sua mulher. No entanto, a incompreensão do romance não partiu do meio selvagem, mas do homem branco que considerou o caso escandaloso.

Da selva para a megalópole, no Rio de Janeiro, Aires Cunha levou três meses para conseguir oficializar o casamento. Diacuí, pela primeira vez, cobriu a sua nudez e com um belo vestido de noiva e na igreja da Candelária, em 1952, diante de milhares de pessoas e flashes de fotógrafos, uniu-se ao homem branco. Os problemas da jovem índia e do sertanista aventureiro estavam apenas começando. Assis Chateaubriand, criador da TV brasileira e à época editor da famosa Revista Cruzeiro, explorou o fato em reportagens seriadas.
Diacuí, pela primeira vez, cobre sua nudez para unir-se ao amado em cerimônia na civilização do homem branco
























Um ano depois do casamento, Diacuí morreu, mas a semente do amor florescera na pequena Diacuí,  que herdou da mãe o nome e os traços. Cunha abandonou a selva com a menina e a trouxe para a civilização, para Uruguaiana, onde foi criada entre os brancos

Isso ajudou a celebrizar o caso e aumentar o preconceito, mas o amor inusitado superou tudo. Um ano após o casamento Diacui morrera precocemente, deixando o sertanista com a filha pequena que fora batizada com o mesmo nome da mãe. Cunha pegou a menina e abandonou a floresta para vir morar com ela em Uruguaiana, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, na fronteira do Brasil com a Argentina. Na civilização, nunca mais havia retornado às terras onde sua mãe viveu



Em 2014, Duclerc Silva esteve na aldeia Matipu, no Xingu e conheceu familiares de Diacuí ainda vivos, foi quando se materializou a ideia de promover o encontro da indígena com o seu povo. A aldeia se interessou e os caciques Arifirá Matipu e Manüfá Matipu, apoiados pela prima Autuhu Kalapalo Matipu, emitiram convite para ele viajar até a selva e reencontrar familiares. Diacui então, tomou coragem e trocou a tranquilidade da casa onde mora na Rua Dr. Maia e se aventurou na busca de suas raízes. O dia 27 de março de 2015, ficará assinalado na história cultural do país,foi quando a índia desembarcou na floresta do Xingu em busca de sua história perdida.

Ela desembarcou em Canarana (MT) onde estava sendo esperada por mais de dez índios do Xingu. O relato é de que o encontro foi repleto de abraços apertados e longos, de olhares furtivos e observadores, lágrimas de reencontro e a tão sonhada aproximação. Conta Duclerc que antes de se aventurar selva adentro, o entrelaçamento no hotel com os peles vermelhas varou a madrugada, mas o amanhecer já assinalava que era hora de dormir e a jornada até a Aldeia Matipu seria longa. Horas depois, entraram na floresta e nem a expedição cansativa diminuiu a ansiedade e a euforia de Diacuí e de seu amigos.
Encontro de Diacuí Cunha Dutra com parentes seus, da etnia kalapalo, no hotel em Canarana (MT)




Os índios kalapalos fizeram festa para receber a caravana de Diacuí e rever a parente que voltara ao lar, exibindo os rituais perpetuados de geração em direção


Em breve relato, ela me contou como foi o reencontro com as verdadeiras raízes dela e de todos nós, brasileiros. “Pra onde eu ia me seguiam e, curiosos, me tocavam”, me disse Diacuí. Na selva, comeram carne de macaco que tem sabor de capivara e vários tipos de purês de farinha. Dormiram em oca ou taba e viveram os momentos mais mágicos de suas vidas  na floresta que serão relatados em detalhes nas páginas do livro que está sendo escrito por Duclerc,  e em documentário rico em imagens e sons do reencontro de Diacuí na terra onde nasceu e onde seus pais viveram o mais incrível romance da vida real.

13 comentários:

  1. Amigos: recomendo mais uma vez essa leitura em que relato a incrível história da índia Diacuí Kalapalo, da selva do Alto Xingu, e seu romance cinematográfico com o sertanista Ayres Câmara Cunha, de Uruguaiana (RS), Brasil, Uma contribuição inestimável para a cultura e história do nosso Brasil.

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  2. Amigos: recomendo mais uma vez essa leitura em que relato a incrível história da índia Diacuí Kalapalo, da selva do Alto Xingu, e seu romance cinematográfico com o sertanista Ayres Câmara Cunha, de Uruguaiana (RS), Brasil, Uma contribuição inestimável para a cultura e história do nosso Brasil.

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  3. O Ayres era meu tio avô. Pena que não tenho muitas informações sobre ele, tive pouco contato com ele quando era pequena. abraço e parabéns pela iniciativa! Carla Cunha

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  4. O Ayres era meu tio avô. Pena que não tenho muitas informações sobre ele, tive pouco contato com ele quando era pequena. abraço e parabéns pela iniciativa! Carla Cunha

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    1. Obrigado por prestigiar meu trabalho Carla. Deves sim ter muito orgulho de teuavô...

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  5. Que linda história, me considero totalmente india apesar das misturas de raças em minha linhagem, e fiquei encantada com esse relato que até então desconhecia, um tanto parecido com o filme O Novo Mundo de Terrence Malick - romance. Até fiquei pensando se não foi baseado nessa história real de Diacui rsrs. Parabéns pelo lindo trabalho que contribuiu para o meu conhecimento.

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  6. Hoje li e vi muita coisa sobre a India Diacui para uma amiga brasileira aqui na Alemanha que já tinha enviado carta em 2008 para FUNAI pedindo informaçoes, mas não obteve nenhuma resposta..adoramos saber sobre a india Diacui. Obrigada ism61@gmx.de

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  7. Passei minha infância, pescando na barragem ali junto a policia rodoviária na br290 saida de uruguaiana, muitos churrascos e trairas fritas aos fins de semana no galpao, alimentado de luz por um catavendo da propriedade, a duacui ja era uma senhoras mulher. Mas o aires era um bonaxao isto nos inicio dos anos 1980. Parabens pessoal por me lembras de historias de uruguaiana querida.

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  8. Como é bom relembrar o passado,a minha avó neta de uma Índia da Tribo dos Guarás do Paraná recebia todos os meses em casa um exemplar da Revista O Cruzeiro e quando me mudei para Arapongas norte do Paraná logo fui estudar o primário e em 1962 já sabendo ler encontrei seus exemplares da Revista O Cruzeiro e tive o previlegio de ler tudo sobre Diacui...Bem hoje estou com 66 anos e volto a recordar sobre esse amor na Selva, gostaria de saber como e onde adquirir o livro...moro em Londrina Paraná meu contato é 043991450073... Paulo Sérgio de Souza...

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  9. O meu filho terminou de ler o livro e fui procurar fotos na internet e achei essa página. Muito obrigado.
    Sou de Porto Alegre, RS

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  10. Nesta madrugada do dia 29 de junho de 2021, acordei depois de ter um sonho sobre a Índia Diacui,que no ano de 1952 foi muito falada no Rio de Janeiro Capital da Republica do Brasil, pelo seu casamento com hum homem branco na igreja da Candelária, mas ela teve câncer, que acabou com a sua vida, nessa época eu tinha 14 nos de idade !!!

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  11. Qua do adolescente, li a matéria que contava a história e mostrava fotos da Diacui também adolescente. Havia fotos dela na escola e fiquei muito impressionada com toda a história. Nunca esqueço. Tenho, hoje, 65 anos e lembro de tudo. Emociknada com essa matéria e fotos recentes de Diacui!

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  12. Gostaria de comprar o livro qual o nome?! E o autor?!

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